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Miocardite pós vacina covid: Maioria dos jovens apresenta lesões cardíacas persistentes

As miocardites associadas às vacinas covid mRNA têm sido descritas como “autolimitadas e que resolvem com tratamento” (Infarmed). Neste, que é o maior estudo longitudinal sobre miocardites e financiado pela FDA, foram identificadas consequências clínicas em crianças, adolescentes e jovens até aos 30 anos (25% de internamentos em UCI). Mas o dado mais relevante foi a elevada persistência de lesões cardíacas vários meses após a vacinação, o que, em conjugação com indicadores recolhidos e investigações anteriores, são um “prenúncio de maus resultados clínicos” e sugerem o “desenvolvimento subsequente de cardiomiopatia dilatada”. 

Um estudo, financiado pela Food and Drug Administration (FDA) e que contou com mais de 60 autores, analisou 333 pacientes de 38 hospitais com miocardite associada às vacinas covid mRNA Pfizer e Moderna (apenas um vacinado com a da Johnson & Johnson). Todos testaram negativo ao SARS-CoV-2 e não tinham antecedentes cardíacos. 

Além disso, os investigadores compararam estes indivíduos com 100 doentes com Síndrome Inflamatória Multissistémica Pediátrica (MIS-C), uma condição associada à covid-19 em crianças, e que também pode ter consequência cardíacas importantes. 

Miocardite de jovens vacinados 

Os doentes com miocardite (associada à vacina covid) foram maioritariamente do sexo masculino (média de 15,7 anos) e tiveram uma evolução clínica inicial ligeira. 

No entanto, a lesão miocárdica esteve presente em 82% dos casos (uma taxa semelhante às que tinham sido encontradas em miocardites pós vacina covid em 2021).  

Tal foi evidenciado por realce tardio pelo gadolínio (RTG). O RTG por ressonância magnética cardíaca (RMC) é uma técnica capaz de detetar anormalidades nos tecidos, particularmente fibrose miocárdica. Noutras condições, incluindo a miocardite viral, este indicador pode ser um prenúncio de insuficiência cardíaca, cardiomiopatia dilatada, arritmias e morte súbita cardíaca no futuro [1,2,3,4,5]. 

A probabilidade de se detetarem lesões foi maior em pacientes mais velhos (>15 anos) e quando a miocardite ocorreu após a primeira ou segunda dose de mRNA, em comparação com a terceira dose.  

Outros dados recolhidos: 

– 25% necessitaram internamento em cuidados intensivos; 

– 200 doentes (60%) apresentaram ECGs anormais (alterações difusas do segmento ST e/ou inversões da onda T);  

– Em 26 doentes (8%) foram observadas extrassístoles  ventriculares frequentes;  

– 17 (5%) apresentaram taquicardia ventricular; 

– Um doente (0,3%) apresentou bloqueio cardíaco completo. 

Seguimento dos casos de miocardite associado à vacina covid 

Foi possível fazer um seguimento mediano de 178 dias em 307 pacientes (92%). Nesses não foram registadas mortes cardíacas ou transplantes cardíacos até à data do estudo.  

Embora a gravidade e a prevalência do indicador de lesão miocárdica aguda e de formação de cicatrizes crónicas na miocardite infantil (RTG) tenham diminuído durante o seguimento, 60% dos doentes apresentavam persistência desse marcador, aquando do exame de ressonância magnética cardíaca (RMC) de seguimento, com uma mediana de seguimento de 159 dias.  

5% entre os que continuaram a ser positivos para o RTG, sofreram um agravamento desse indicador, incluindo três pacientes com recorrência de sintomas cardíacos, incluindo dor no peito, palpitações, tonturas ou fadiga.  

Além disso: 

– Quatro pacientes foram re-hospitalizados por dor torácica recorrente, incluindo um com taquicardia ventricular e um por uma recorrência de miocardite com dor torácica, palpitações, troponina elevada e alterações do segmento ST;  

– 89 pacientes (28%) relataram sintomas cardíacos num seguimento médio de 91 dias desde que receberam a vacina; 

– Em 11 pacientes (4%) foram observadas arritmias como taquicardia auricular ou ventricular e extrassístoles  ventriculares frequentes, num período de seguimento médio de 31 dias (IQR 23-230 dias);  

– Em 48 pacientes (23%) ocorreram anomalias do ECG, incluindo anomalias das ondas ST e T;  

– A prevalência de disfunção do ventrículo esquerdo e do edema miocárdico diminuíram, respetivamente, de 17% para 4% e de 41% para 4%, respetivamente.  

Comparação com o MIS-C 

A evolução clínica inicial dos doentes com MIS-C teve menor probabilidade de ser ligeira (23% vs. 80%) e a disfunção cardíaca foi mais comum (68% vs. 17%). 

No entanto, o indicador de lesão miocárdica aguda e de formação de cicatrizes crónicas na miocardite infantil (RTG) foi mais prevalente na miocardite por vacina covid (82% vs. 16%).  

Conclusões dos autores 

Para os autores, a persistência de lesões identificadas por realce tardio pelo gadolínio (RTG), na ausência de edema miocárdico, sugere remodelação fibrótica do miocárdio e um prenúncio de maus resultados clínicos.  

“Isto é consistente com modelos animais de miocardite que demonstraram o desenvolvimento subsequente de cardiomiopatia dilatada”. 

Defendem, por isso, mais estudos longitudinais, para compreender o significado clínico a longo prazo, e a monitorização com consultas clínicas e vários tipos de exame dos doentes com lesões persistentes detetáveis. 

Ver também: 

Miocardite vacinal Covid: Sintomas e anormalidades clínicas comuns após 6 meses – The Blind Spot 

Estudo vacinação Pfizer: 17,1% de estudantes tiveram sintomas cardíacos – The Blind Spot 

Responsável do FDA reconhece surpresa com miocardites e que não sabe se perdurarão a longo prazo – The Blind Spot 

Reações adversas a vacinas mRNA: 6 miocardites entre os 12 e os 18 anos registadas no hospital de Coimbra – The Blind Spot 

Estudo: miocardite e pericardite aumentam consideravelmente após a toma de vacinas (Pfizer e Moderna) entre os 12 e os 15 anos – The Blind Spot 

Investigação TBS: Ministério da Saúde não indica entidades responsáveis por indemnizar vítimas de reações adversas – The Blind Spot

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