Editorial- Os interesses por detrĆ”s dos ā€œFact checkersā€

ByNuno Machado

12 de Fevereiro, 2023 ,

A verdade nem sempre Ć© fĆ”cil de alcanƧar e, muitas vezes, nĆ£o existe em termos absolutos. Os fact checkers seriam, supostamente, um instrumento para ajudar nessa tentativa, atravĆ©s da (tal como o nome indica) ā€œverificação de factosā€. No entanto, especialmente sobre alguns assuntos, tĆŖm exatamente o papel contrĆ”rio – ajudam a ocultar dados objetivos, evidĆŖncia cientĆ­fica ou opiniƵes qualificadas. Por outro lado, ā€œfecham os olhosā€ a informação comprovadamente falsa, propagada por entidades pĆŗblicas, pelos media ou por empresas privadas. Em algumas situaƧƵes, sĆ£o, eles próprios, fonte dessa ā€œdesinformaçãoā€.

Inicialmente, a existĆŖncia de ā€œverificadores de factosā€ parecia uma boa ideia porque, de facto, muitas informaƧƵes podem ser, de forma objetiva, verificados. Assim, em tese, Ć© possĆ­vel denunciar informaƧƵes falsas e dissuadir aqueles que delas quisessem tirar partido.

No entanto, os verificadores de factos foram progressivamente alargando o seu espectro de atuação. Apesar de manterem o nome, deixaram de verificar apenas factos e foram entrando, cada vez mais, no que eles querem que se consideram factos, apesar de manifestamente não o serem.

Posições de instituições públicas (mesmo que sujeitas a dependências políticas e financeiras), opiniões de peritos (mesmo com graves conflitos de interesse) ou resultados de estudos (mesmo que de mÔ qualidade) passaram a servir como factos.

Outras instituições (públicas ou privadas), outros peritos (mesmo os mais conceituados), outros estudos publicados (mesmo de qualidade elevada) e até dados oficiais foram ignorados, ou censurados, por colocarem em causa certos (pseudo) factos.

Fonte: How Twitter Rigged the Covid Debate– The Free Press

Os motivos deste fenómeno serão variados, mas não serÔ muito especulativo afirmar que existe interesse em controlar, de alguma forma, a narrativa através destas entidades aparentemente credíveis.

Até porque, a forma como elas se interligaram com as redes sociais e os media, permite-lhes denegrir, minimizar o alcance e censurar vozes incómodas.

Fonte: How Twitter Rigged the Covid Debate– The Free Press

A promiscuidade e os conflitos de interesses conhecidos são infindÔveis. Só para citar alguns exemplos, o International Center for Journalists (ICFJ), envolvido em inúmeros programas de fact-checking, entre os quais o do Facebook e do Instagram, tem como patrocinadores empresas como: a Bloomberg, a Pfizer, a Goldman Sachs e outras multinacionais de diferentes Ôreas, e recebe igualmente doações regulares da fundação Bill & Melinda Gates no valor de muitos milhões.

TambĆ©m a abertura dos ficheiros do Twitter permitiu comprovar a contaminação da rede social por inĆŗmeras InfluĆŖncias polĆ­ticas e financeira. Um desses casos foi a intervenção direta de um grupo lobista da Pfizer e da Moderna, a BIO, na criação de um programa de ā€œmoderação montado dentro da própria rede social que censurou inĆŗmeros conteĆŗdos verdadeiros, ou opiniƵes qualificadas, que colocavam em causa interesses da industria.

Ɖ evidente, pois, que inĆŗmeras instituiƧƵes tĆŖm fortes interesses e investimentos avultados nos ā€œverificadores de factosā€ e que, o que se conhece serĆ” apenas a ponta do iceberg.

SerĆ” demasiado ingĆ©nuo acreditar que essas contribuiƧƵes nĆ£o esperam nada em troca, mas que fazem esses avultados investimentos pelo ā€œbem comumā€. Se considerarmos o tipo de ā€œverificaçãoā€ que tem ocorrido nos Ćŗltimos anos, torna-se ainda mais clara a tentativa (bem sucedida) de influĆŖncia de ā€œquem pagaā€.

Desta forma, os ā€œfact checkersā€, aliados aos grandes media, sĆ£o (mais) um dos instrumentos usados para a crescente censura que se abate sobre as sociedades democrĆ”ticas, ocidentais e nĆ£o só.

Muitas vezes, sobre o pretexto de novas causas ou emergências, restringem cada vez mais a liberdade de expressão, essencial nas democracias, e ocultam da opinião pública factos, evidências ou opiniões relevantes.

Ɖ um tipo de censura, mais impercetĆ­vel para maioria, e tambĆ©m por isso, ainda mais perigosa.

Tem ajudado no enriquecimento desmedido de grandes multinacionais e dos seus investidores, Ơ custa do empobrecimento geral das populaƧƵes.

Tem contribuĆ­do para uma sociedade, cada vez menos (bem) informada e dependente de fontes oficiais (infelizmente, cada vezes mais dependentes de interesses privados), abrindo assim caminho para um crescente, e perigoso, autoritarismo do estado e subserviĆŖncia individual.

Ɖ por isso necessĆ”rio denunciĆ”-la e arranjar formas inteligentes de a contornar.

Ver tambƩm:

Antiga polƭtica do Twitter suportava censura de afirmaƧƵes verdadeiras

Censura cientƭfica no Facebook com base em erros e omissƵes de dois fact checkers

Facebook censura publicação sobre vacinação Covid-19 baseada em estudo da revista Nature