Ć uma frase de pura e primĆ”ria propaganda destinada a manipular ouvintes sem sentido crĆtico nem um mĆnimo de cultura.Ā O denominador comum do que o mundo entende por Europa e do que os europeus entendem por Europa, a visĆ£o extrĆnseca e intrĆnseca de Europa, assenta na geografia: a penĆnsula que vai do AtlĆ¢ntico aos Urais; na visĆ£o do mundo, uma dianoia, um pensamento, no caso o pensamento grego e o cristianismo; e, mais modernamente, numa organização polĆtica que remete para a revolução francesa. Se repararmos, as cores da bandeira russa sĆ£o as mesmas da FranƧa, e tambĆ©m do Reino Unido.Ā
Os povos da UcrĆ¢nia, como os povos de maior parte da RĆŗssia, fazem parte da Europa, da sua história e da sua cultura. O que estĆ” a ocorrer com esta ação nada tem a ver com o que afirma Zelenskiy. O que ocorre Ć© que a Europa de hoje, entendida pelo poder russo como a NATO, a guarda avanƧada dos Estados Unidos, representa para a RĆŗssia o mesmo que os exĆ©rcitos de NapoleĆ£o e de Hitler, nos sĆ©culos dezanove e vinte, e a UcrĆ¢nia representa a mesma āvia rĆ”pidaā, a planĆcie, por onde eles pretendem chegar rapidamente a Moscovo.Ā
Compreende-se a manipulação da história de Zelenskiy. Quanto Ć compreensĆ£o dos europeus centrais: Ć© a terceira vez que acreditam que Ć© possĆvel ocupar Moscovo! Mas Ć terceira os russos nĆ£o ficaram Ć espera em Moscovo e anteciparam-se, avanƧando as suas linhas de defesa para a UcrĆ¢nia. Uma pura manobra que os militares designam por Ā«defesa avanƧadaĀ».Ā
Nenhuma destas consideraƧƵes Ć© de ordem moral, ou contĆ©m um juĆzo de valor sobre os atores que estĆ£o em jogo, nem de Putin, nem de Biden. Nem do pobre Zelenskiy, que se meteu ou foi metido numa história maior do que ele. Mas isso tambĆ©m o nosso Martim Moniz, o entalado nas portas de Lisboa!Ā
Carlos de Matos Gomes
Coronel do ExƩrcito reformado, autor e coautor de vƔrios livros sobre a Guerra Colonial
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