A Suécia, apesar de ter números Covid significativos, apresenta uma mortalidade geral negativa em 2021.
A mortalidade geral é uma das melhores formas de avaliar o impacto da pandemia. Engloba, quer a influência da doença, em si, quer das medidas tomadas como resposta.
Por outro lado, os números que diariamente são apresentados como mortes Covid devem ser clarificados e melhor interpretados.
Morte Covid
A mortalidade Covid não contém apenas mortes em que a Covid é a principal causa. Tal, decorre diretamente de ter sido considerada doença de registo obrigatório pela OMS, com critérios particulares para notificação, podendo por exemplo incluir mortes “prováveis” ou “suspeitas”.
Além disso, os países adotaram formas bastante distintas de atribuição. Por exemplo, alguns países consideram como morte Covid, uma morte ocorrida até 28 dias (Reino Unido) ou até 30 dias (Suécia) após um teste positivo, independentemente da causa.
Assim, a mortalidade geral, além de ser um indicador fiável, é revelador porque considera todas as causas de morte, não se centrando apenas numa única doença.
O caso Sueco
A Suécia foi um dos países mais afetados nos primeiros meses de pandemia.
No entanto, foi o único país europeu que nunca adotou medidas não convencionais, como confinamentos ou outras medidas extremas.
É certo que outras medidas (isolamento de infetados, lavagem frequente de mãos, recomendações várias) podem ter igualmente alguns efeitos (positivos e também negativos).
Todavia, é consensual que as medidas tomadas evitaram, ou minimizaram, os muitos efeitos colaterais negativos, reconhecidos nas medidas mais restritivas que outros países tomaram.
Deste modo, na Suécia é mais fácil observar o impacto direto da doença na mortalidade geral.
Mortalidade 2020
Numa análise realizada pela CEBM de Oxford, a Suécia aparece como um dos países com baixa taxa de mortalidade geral em 2020, apesar de na altura ser um dos países com maior taxa de mortalidade Covid.
Comparando com outros países é possível verificar essa discrepância. Por exemplo, Portugal teve um número de mortes classificadas como Covid inferior à Suécia (6 906 contra 9 817). No entanto, a mortalidade geral foi muito superior (6,8% contra 1,5%).
Mortalidade 2021
Em 2021, a Suécia apresenta mesmo uma mortalidade geral negativa. Isto apesar de ainda ter números Covid significativos (embora dos mais baixos na Europa).
Ao compararmos a mortalidade geral com outros países europeus, podemos verificar que países com maiores restrições continuam com um elevado excesso de mortalidade. Este dado é ainda mais relevante se considerarmos que a generalidade destas nações já tinham tido uma elevada mortalidade em 2020, o que reduziu a sua população mais vulnerável e tenderia a reduzir a mortalidade no ano seguinte.
Tal, parece aplicar-se também a países nórdicos que adotaram igualmente medidas mais restritivas, como a Dinamarca.
O silêncio sobre a Suécia
Desta forma, não deixa de ser surpreendente que não se olhe com muita atenção para o caso sueco, nomeadamente, para: (1) comparar resultados após diferentes políticas (confinamentos, fecho de escolas, máscaras, medidas mais convencionais); (2) confrontar os resultados com as previsões (baseadas em pressupostos que ainda hoje justificam medidas drásticas); (3) dar relevo à mortalidade geral, como um dos indicadores mais fiável e global.
É de notar que os resultados da Suécia passaram a ser omitidos por políticos e pela comunicação social. O interesse no país caiu a pique, quando provavelmente seria a altura para se estudarem os seus resultados e se tirarem ilações para o futuro.
Ideias finais
A mortalidade geral da Suécia é um ótimo indicador do impacto global da epidemia (doença e medidas).
Ao contrário do que se esperava, mediante as muitas críticas e as assustadoras previsões, a mortalidade geral na Suécia é das mais baixas da Europa.
Para uma análise mais completa, há muitos fatores a considerar e existem diferenças entre países que fazem com que a aplicação de certas medidas, ou a sua ausência, tenham efeitos distintos. Também devemos considerar que as correlações não demonstram, só por si, causalidade.
No entanto, a gestão da pandemia pela sua agência de saúde, independente do poder político, e com resultados que contrariaram todas as previsões, levanta várias questões:
– O enfoque político nesta doença aliado a uma cobertura mediática intensiva levou a uma maior prevenção de contágios e redução de mortes? Ou pelo contrário, o medo inibiu muitas pessoas de recorrerem aos serviços de saúde quando deles necessitavam?
– O cancelamento de assistência na saúde (rastreios, exames, consultas, intervenções) foi inevitável para combater a Covid ou provocou (e provocará) muitas mais mortes do que as que evitou?
– Medidas como o confinamento, contribuíram para uma menor mortalidade geral ou pelo contrário os seus potenciais benefícios na redução de contágios são superados pelos seus riscos (inatividade física, problemas psicológicos, desespero financeiro, aumento de contágios em ambientes fechados)?
– Em vez de nos centrarmos no número de mortes Covid, com todas as suas limitações, não nos deveríamos centrar num indicador, fiável e global, que é a mortalidade geral?
Questões que, passados quase dois anos de pandemia, poucos parecem querer abordar.