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Falta de organização do SNS durante a pandemia provocou grandes assimetrias de “pressão” hospitalar

O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, confirmou existirem enormes problemas de organização do SNS. O responsável salienta as lacunas no “funcionamento em rede” e aponta, como exemplo, a distribuição de doentes pelos hospitais durante a pandemia. Esta desarticulação terá sido um dos fatores para a maior pressão em alguns hospitais, apesar da atividade geral ter tido uma quebra histórica.

Na passada quarta-feira, numa entrevista à Edição da Tarde da SIC Notícias, Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), reconheceu terem existido graves falhas na alocação de doentes que iam ser internados, trazidos geralmente pela emergência médica, durante o período da pandemia. 

“Repare que no início da pandemia nós não tínhamos sequer um sistema informático que nos permitisse saber em tempo real qual era a ocupação de camas de cuidados intensivos dos hospitais como um todo. (…) Portanto, doentes que tinham de ser internados, tinham de ser internados num local mais apropriado e nós não tínhamos sequer um sistema de informação que nos permitisse saber de facto qual era o hospital que os podia receber. Isso criou as assimetrias que vimos, uns hospitais com filas de ambulâncias de vários dias, em alguns casos, e outros com menos pressão”, descreveu Xavier Barreto.

O responsável pela APAH, destacou também que mediante estas situações “há de facto problemas de articulação entre os diferentes hospitais, há problemas de organização, os hospitais estiveram sempre muito limitados na sua autonomia de gestão, na possibilidade de fazerem investimentos ou de contratarem pessoas.”

Gráfico 1: Atendimento em Urgência Hospitalar por Triagem de Manchester (Fonte: Transparência, SNS, 8 de julho de 2022)

Explicações para a baixa atividade hospitalar durante a pandemia

Apesar dos números globais de ocupação das UCI (Covid e não Covid) não serem divulgados pelo Ministério da Saúde, o que se sabe sobre a ocupação hospitalar e sobre os episódios de urgência revela uma queda histórica da atividade hospitalar durante os anos pandémicos (2020 e 2021).

Gráfico 2: Atividade nos Cuidados Saúde Hospitalares – Monitorização Sazonal (Fonte: Transparência, SNS, 8 de julho de 2022)

A descoordenação do SNS, apontada por Xavier Barreto, juntamente com outros fatores, como os protocolos Covid e a maior exigência de cuidados necessária com estes doentes, terá contribuído para uma maior pressão em alguns hospitais. Isto, apesar da afluência e ocupação terem caído nesse período.

Gráfico 3: Taxa de Ocupação Hospitalar (Fonte: Transparência, SNS, 8 de julho de 2022)

Nova proposta do SNS

Para o presidente da APAH a “nova proposta do SNS parece querer devolver essa autonomia [aos hospitais], mas essa autonomia já era possível com o anterior estatuto do SNS, o que aconteceu é que à posteriori foram introduzidos novos instrumentos relativos que vieram limitar essa autonomia.”

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