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Identificados gastos superiores a 21 mil milhões de euros nos primeiros meses da pandemia

Desde 2020 que a Europa  combate a pandemia da Covid-19. A maioria das medidas para lidar com a doença foi comum a quase todos os países europeus. Porém, de acordo com o Projeto de Denúncia do Crime Organizado e da Corrupção, houve um fator em comum que faltou em todos os Governos: a transparência.

Milhares de milhões de euros foram gastos e permaneceram, em grande parte, escondidos do público durante o período de combate à pandemia de Covid-19

Desta feita, o Projeto de Denúncia do Crime Organizado e da Corrupção (OCCRP) decidiu descobrir o que aconteceu com esse dinheiro.

Em parceria com os media de 37 países, recolheram informações de mais de 37.800 contratos relacionados com a Covid-19 entre fevereiro e outubro de 2020 e avaliados em cerca de 21 mil milhões de euros. Estes contratos abrangem bens essenciais, como ventiladores, testes, medicamentos e equipamentos de proteção pessoal (EPP).

O OCCRP descobriu que, dependendo do Governo, o preço de uma máscara podia variar entre 20 cêntimos e 37€ . Além disso, revelam o boom de hidroxicloroquina e cloroquina, medicamentos promovidos como tratamento para a Covid-19 e que aumentou 15 vezes em 2020, apesar das evidências limitadas.

O OCCRP admite que os dados estão longe de estar completos, mas fornecem uma visão sobre onde os governos da Europa têm gasto milhares de milhões.

Veja o mapa completo de despesas:

Contratos

A recolha de dados obtida pela OCCRP do portal de compras da União Europeia, do Tenders Electronic Daily e dos governos nacionais e regionais dá apenas uma pequena ideia das despesas da Covid-19 na Europa, com o número de contratos de cada país a refletir o nível de transparência dos mesmos e não necessariamente quanto gastou o país.

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O maior número de contratos obtido foi de Portugal, com cerca de 15.000, sendo um dos poucos países europeus a publicar todos os seus contratos online. Seguiu-se a Rússia, com 12.000 contratos.

Já outros países, como a Bélgica, Países Baixos e Dinamarca, rejeitaram os pedidos de dados, argumentando que, para não prejudicar as negociações para a compra de bens, era necessário preservar o segredo. No caso da Noruega, ainda forneceu alguns detalhes sobre contratos, como por exemplo o nome de algumas empresas, mas não forneceu qualquer informação sobre preços.

Quase metade do total do valor dos contratos (20,8 mil milhões de euros), 10 mil milhões de euros, são contratos do Reino Unido, com várias compras feitas pelo Departamento de Saúde e Assistência Social a resultarem num gasto de 4,9 mil milhões de euros.

Em Espanha, o Governo comprou 181 milhões de euros de EPI (equipamento de proteção individual), resultando no maior contrato nacional. Já a Alemanha, obteve um gasto de 2 mil milhões de euros.

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Máscaras

No que diz respeito aos equipamentos médicos e dos negócios de EPI recolhidos, a OCCRP averiguou que o valor total chegou aos 3 mil milhões de euros.

Em relação às máscaras, principalmente a FFP2, foram encontrados gastos no valor de 1,8 mil milhões de euros.

Os preços pagos pelas FFP2 (K95 na China e N95 nos EUA) variavam muito, com metade destas a serem adquiridas por menos de 3,27€ cada uma e 75% a custar menos de 4,9€. Porém, também houve países com preços exorbitantes, como a Ucrânia e a República Checa, que chegaram a pagar até 37€ por uma máscara.

Medicamentos

Entre fevereiro e julho de 2020, devido à pandemia, os países da UE-27 importaram quase 5,2% medicamentos a mais em comparação com o mesmo período no ano anterior – um aumento de cerca de mil milhões de euros.

O gigante farmacêutico suiço, Roche, foi o “grande vencedor” deste crescimento, com quase metade dos maiores contratos a irem para a empresa. As outras três empresas que mais beneficiaram foi a Sanofi, Novartis e Allergan.

Os medicamentos considerados como um potencial tratamento Covid, como a hidroxicloroquina  e a cloroquina, tiveram um crescimento enorme ao longo de 2020, com 31 grandes contratos para ambos os medicamentos, em comparação com apenas dois em todo o ano de 2019.

Já a dexametasona, utilizado para várias doenças desde alergias a artrite, também explodiu em popularidade, com o número de grandes propostas para o medicamento a subir de seis em todo o ano de 2019 para mais de 215 em 2020.

Nota: A investigação foi elaborada com base na recolha de dados dos contratos feitos com o propósito de combater a pandemia de Covid-19, contudo nem todos os países europeus forneceram os dados completos.

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