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Congresso sobre gestão de pandemias pretende dar espaço ao contraditório

A gestão de pandemias e da saúde será o tema principal de um congresso internacional que irá juntar médicos, cientistas, advogados, gestores e jornalistas. Para Marta Gameiro, presidente da comissão organizadora do congresso, é tempo de dar voz a quem não teve tempo de antena durante a pandemia para exprimir ideias contrárias às determinadas pelas autoridades de saúde e difundidas pela comunicação social.

Na entrevista, a médica dentista fala das suas motivações para a organização do congresso, dos efeitos colaterais da resposta à pandemia, da censura e da desinformação. Marta Gameiro critica ainda os principais intervenientes daquilo que considera ser “o maior golpe de marketing alguma vez feito na história”, quando se refere à vacina covid-19.

O Congresso Internacional sobre Gestão de Pandemias/Saúde realiza-se de 28 a 30 de outubro, em Fátima.

Da lista de quase 60 palestrantes e moderadores, fazem parte, entre outros:

  • José Manuel Silva, médico, antigo bastonário da Ordem dos Médicos (OM) e atual presidente da Câmara Municipal de Coimbra;
  • Peter McCullough, cardiologista norte-americano e autor de um protocolo de tratamento covid-19;
  • Geert Vanden Bossche, virologista belga, que trabalhou na investigação de vacinas para várias empresas farmacêuticas e colaborou com Fundação Bill e Melinda Gates e na GAVI;
  • Germano de Sousa, médico, antigo bastonário da OM e diretor clínico do grupo como o seu nome, dedicado à medicina laboratorial;
  • Tiago Marques, responsável pela unidade de doenças infecciosas do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

A versão em vídeo da entrevista está disponível no canal The Blind Spot do Odysee.


Como surgiu a ideia para a organização da conferência?

A ideia remonta a março de 2020, quando foi declarado o primeiro confinamento. Na altura, eu não via televisão e fui seguindo um bocado ao longe o que estava a acontecer. Quando vi os meus colegas [dentistas] a fecharem os consultórios, pareceu-me muito estranho porque as notícias que eu tinha de Wuhan e das redes sociais não me davam a sensação que justificasse o que estava a acontecer.

Mas o que aconteceu foi o que nós vimos. Um efeito bola de neve, um país a seguir o outro. Não concordei de todo com o modo de como as coisas estavam a ser feitas. Reparei que toda e qualquer opinião era feita no mesmo sentido e as opiniões que divergiam eram muito camufladas.

Era tudo muito consensual, não havia vozes divergentes. E isso na altura foi para mim um sinal de alarme. Porque quando há consenso é sinal de que as vozes divergentes não estão a ser ouvidas.

Reparei que os jornalistas não entrevistam pessoas com opiniões contrárias. E, por isso, em 2021 optei por tentar fazer alguma coisa nesse sentido. A primeira entrevista que eu fiz foi em abril de 2021 ao advogado alemão Reiner Fullmich, que aceitou o convite, para surpresa minha. A entrevista foi bastante partilhada. E depois pensei: “se este aceitou, quantos mais aceitarão?” E consegui. Ao todo fiz cerca de 70 entrevistas.

Durante esse percurso de entrevistas a várias pessoas de diversos pontos do mundo, começou a surgir esta ideia de fazer uma conferência. A ideia era dar voz às pessoas que não estavam a ter tempo de antena na televisão, que queriam colocar questões e debater estratégias.

Além disso, estavam a ser bloqueadas nas redes sociais. Eram apelidadas de fontes de desinformação, de estarem alinhadas com a extrema-direita e serem trumpistas e bolsonaristas. Toda uma série de adjetivos que, infelizmente, fomos sendo apelidados nos últimos dois anos, sem qualquer prova, sem qualquer nexo de causalidade.

Em junho de 2022 decidi seguir para a frente com a ideia do congresso, já que ninguém faz nada. Optei por fazer inicialmente um crowdfunding. Consegui uma parceria com o Movimento Cidadania Democrática.

Muitos gostaram da ideia e resolveram juntar-se a mim para unir esforços e conseguir grande parte do dinheiro para o crowdfunding.

Cada um dos três dias é dedicado a um tema diferente. O primeiro dia tem como título “confinamento e medidas draconianas de saúde pública: o outro lado”. O que é que se passou então com o outro lado da saúde pública, na vossa opinião?

Eu queria realçar que não quer dizer que estes temas não tenham sido discutidos. Qualquer televisão vai dizer, qualquer meio de comunicação social vai dizer que estes temas foram amplamente discutidos até à exaustão. Eu diria que nós tivemos um período de 2020 que foi absolutamente absurdo o tempo dedicado a esta matéria. Isto foi amplamente discutido, mas na mesma direção.

É como se estivéssemos sempre a discutir o mesmo assunto com pessoas que já sabemos a opinião que têm. E, nesse caso, a conversa é sempre muito fluida. Qualquer pessoa que viesse dizer, “mas, mas, mas…”, aparecia nesse dia e não tornava a aparecer.

O primeiro dia é sobre o confinamento e os efeitos colaterais. O confinamento foi visto um bocado do género “vamos salvar vidas”, como se todo o problema da pandemia se reduzisse à questão de morrer ou não de covid. Eu digo, na carta de apresentação que está no site, que vivemos em pânico moral durante dois anos. O que é que eu quis dizer com isso? Durante dois anos podia-se morrer de tudo, exceto com o rótulo covid.

O que eu quero discutir nesse primeiro dia é o outro lado. Os efeitos do próprio confinamento levaram a uma série de outras circunstâncias, tal qual o efeito borboleta, que vão provocar a morte de outras pessoas. Não vou morrer de covid, mas vou morrer de outras coisas.

“Vivemos em pânico moral durante dois anos. Durante dois anos podia-se morrer de tudo, exceto com o rótulo covid.”

E depois falou-se muito que “vamos nos preocupar agora com isto, a economia vemos depois”. Hoje, a saúde também é influenciada diretamente pela economia. Não podemos separar uma da outra. Tinham de se equipar hospitais, precisávamos de médicos – é verdade – e isso é muito importante. E vimos que efetivamente estamos bastante desfalcados nessa área, tal como estão vários países da Europa.

Mas porque é que se concentrou os esforços só aí? Porque é que se submeteu toda a população nesse estado de hipnose coletiva, onde só uma doença é que importa e tudo o resto não é preciso?

O segundo dia é sobre o tratamento precoce e o Sistema Nacional de Saúde. O que é que faltou no tratamento precoce da covid-19?

O tratamento precoce é algo que até é bastante controverso dentro da própria comunidade médica. É como estar a tratar qualquer coisa que ainda não se sabe, para a qual não existem certezas. E eu percebo isso.

No entanto, já em agosto de 2020 foi publicado um protocolo numa revista científica, revisto e depois atualizado, pelo Dr. Peter McCullough [palestrante no congresso], que incluía várias terapêuticas, inclusive a hidroxicloroquina (que é aquele medicamento de que não se pode falar) para a doença covid. O protocolo também refere outros medicamentos, caso de anti-inflamatórios que já existem, corticoides e afins.

Em julho de 2020, também começaram a aparecer estudos que indicavam que a ivermectina era um bom medicamento para tratar de forma precoce a doença covid-19. O medicamento tinha de ser dado num certo espectro temporal, mas era bastante eficaz. O que se viu nesse tempo é que ele foi apelidado de desinformação, que era um medicamento de extrema-direita, ou então que era um medicamento para cavalos.

Marta Gameiro, presidente da comissão organizadora do congresso com o lema primum non nocere – “primeiro, não fazer mal”

Há um princípio, que é o lema do nosso Congresso: “primum non nocere”. É a primeira coisa que nos ensinam no primeiro ano da faculdade de Medicina. E quer dizer, em português: “primeiro, não fazer mal”. Se não faz mal, se há alguma indicação que até pode fazer bem, porque é que foi abafado? Por que não se utilizou? Porque é que houve uma espécie de caça às bruxas? Houve médicos que foram presos por terem prescrito esse tipo de medicamentos.

É altura de termos uma conversa aberta, sem medos, de colegas a trocarem experiências, mostrarem os seus resultados e falarem abertamente sobre isto.

Em relação às vacinas de mRNA, é importante que as pessoas saibam que conotarem esta injeção com o nome de vacina foi o maior golpe de marketing alguma vez feito na história. Isto não é uma vacina, isto é uma tecnologia diferente, à qual foi dado o nome de vacina para transmitir segurança às pessoas.

O mecanismo da ação desta droga, deste medicamento, é diferente das vacinas convencionais. Essas, sim, têm amplos testes de segurança e eficácia, realizados durante anos. São vacinas muito antigas e com provas dadas de segurança e eficácia.

Isto [o mRNA] é uma coisa diferente, é terapia genética. Não se fazem “vacinas novas” em nove meses. E não se fazem porquê? Isto não tem nada a ver com o facto de a ciência estar muito avançada. O processo de desenvolvimento tem passos que têm de ser seguidos.

Há efeitos que não se conseguem ver a curto prazo. Tem de se fazer estudos, têm de se fazer comparações, tem de se fazer estatísticas. E por isso, um medicamento antes de vir para fora, leva, em média, entre 12 e 15 anos.

Se metermos dinheiro, se houver financiamento, podemos acelerar algumas coisas. Mas nunca passar 15 anos para nove meses, nunca.

Por exemplo, nos próprios documentos da Pfizer sobre a administração da vacina em crianças, é referida a questão das miocardites. Só no final de cinco anos é que vão ter dados conclusivos para saber se aquilo provoca mesmo uma taxa elevada de miocardites em crianças e qual a gravidade.

Se só ao fim de cinco anos eles têm estes dados, é justo e aceitável estarem já a dar a vacina às crianças passado um ano? E de forma massiva, com uma espécie de coerção, que houve? Isto será justo, será ético? E as pessoas sabem isto?

Não sabem, porque o que foi dado a entender às pessoas é que isto era seguro e eficaz. O que as pessoas têm de perceber é que a própria empresa farmacêutica não tinha dados para provar aquilo que estava a dizer.

O segundo dia tem também um painel sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS).

O painel sobre o Sistema Nacional de Saúde foi introduzido pela associação Movimento Cidadania Democrática, que participa na organização do Congresso. Vamos ter vários médicos a falar do atual estado do SNS e até que ponto ele estava preparado ou não para enfrentar as medidas que foram impostas para gerir a pandemia. Entramos no ramo da política, o que acaba por ser um bocadinho ingrato. Mas o nosso SNS tem fragilidades que já têm sido acumuladas ao longo dos anos. Eu quero colocar pessoas da área a discutir ideias, pessoas que estão lá dentro, que têm alternativas, e sempre com sentido crítico.

“A comunicação social, quer queiramos quer não, entrou em pânico. E quando o fez, levou a que o resto entrasse em pânico também. E os próprios políticos responderam a esse pânico.”

No terceiro dia, além de discutirem a tecnologia mRNA, vão falar também sobre o “efeito das multidões”.

É importante colocar psicólogos e psiquiatras, como também jornalistas, a falarem daquilo que costumo chamar de “efeito de multidões”. Entrevistei um psicólogo belga, o professor Mattias Desmet, que fala daquilo que ele chama de mass formation.

Basicamente, ele reivindica que, quando há certas características que estão instaladas na população, uma espécie de fenómeno de massas acontece. As pessoas estão tão desvinculadas umas das outras que precisam de um objetivo comum para caminharem todas na mesma direção e sentirem que fazem parte de um grupo. E, por vezes, para encontrarem soluções, nós temos de entender como é que se iniciou o fenómeno.

E é por isso que eu convidei alguns jornalistas, porque a comunicação social, quer queiramos quer não, entrou em pânico. E quando o fez, levou a que o resto entrasse em pânico também. E os próprios políticos responderam a esse pânico. Eu não estou a retirar responsabilidades a ninguém, eu acho que toda a gente tem culpa.

Mas se a comunicação social não tivesse feito este caos, esta cobertura mediática, talvez as coisas tivessem sido feitas de maneira mais calma.
Não sei, agora já passou. E é isso que eu quero discutir, este efeito de multidões, este modo como as pessoas foram todas para agir da mesma maneira em todo o mundo.

Ao mesmo tempo, quero analisar também as consequências psicológicas que só saberemos nos próximos anos por causa dos confinamentos.

Eu acho que o Congresso serve mais para manter as ideias vivas na população, para não deixar o assunto morrer, e para dar credibilidade às pessoas que estão a falar. Para saírem do computador e perceber que essas pessoas são reais.

Eu acho que é para isso que servem as conferências, eu acho que temos que sair do computador. Temos que voltar à realidade. Temos que voltar a dar beijinhos e abraços e voltar a conversar, voltar a ter conversas de café.

O Congresso decorre em Fátima entre 28 e 30 de outubro

Mas há um objetivo de chegar à opinião pública?

Sim. Ao verem coisas grandes a acontecer, as pessoas notam que há movimentação de pessoas e de recursos. Se isto tem força, no mínimo, chama a atenção. Temos que fazer coisas grandes para chamar a atenção. Por isso é que eu digo que temos que sair do Facebook e Twitters desta vida e voltar para a realidade.

Tudo aquilo que aconteceu durante a pandemia, e que ainda há resquícios disso, foi com base num consenso científico internacional decretado por várias autoridades de saúde, desde aquelas locais, das comunidades onde nós vivemos, até à Organização Mundial de Saúde (OMS). É a OMS que tem traçado as grandes diretrizes. Como é que explica haver uma diferença tão grande entre aquilo que os participantes no Congresso defendem e aquilo que ficou entendido como consenso científico internacional à volta da pandemia?

Quero realçar que concordo com a OMS. Nós precisamos, o mundo precisa de uma organização como esta. Agora, lá por nós acharmos que precisamos da instituição, também temos que ter sempre muito cuidado com quem lá temos dentro e, principalmente, com quem financia.

Isto é público – a OMS é financiada pelos vários países do mundo, mas depois tem uma grande percentagem do seu investimento que é de instituições privadas, nomeadamente a Fundação Bill e Melinda Gates. Tem também financiamento da Gavi, que também tem uma participação da Fundação Bill e Melinda Gates. Depois também tem um grande financiamento por parte da Alemanha, que é onde estão as companhias farmacêuticas que fabricam as vacinas.

O que eu quero dizer com isto? Quando se dá o dinheiro à OMS, não é com a ideia de fazer o que quiserem com ele. O dinheiro que é entregue à OMS é dado com um destino. A OMS tem que obedecer e depois gerem o resto que sobra nas outras missões humanitárias.

O que eu digo é que grande parte do bolo que financia a OMS está direcionado para vacinas. Portanto, só a partir daí, já há um grande viés no modo como eles aconselham a gerir a saúde pública. Há outras maneiras de gerir a saúde pública, não temos que recorrer a vacinas, as vacinas é um complemento. Não é uma panaceia universal.

Nós temos que questionar isso. Não podemos seguir cegamente. Porque então entramos numa espiral de que quem tem mais dinheiro é quem manda.

Quer com isso dizer que o consenso científico é mais um consenso económico?

Eu acho que houve um grande caos inicial. E quando há caos, os políticos viram-se para quem dá certezas. (E retiro daí todas as teorias de conspiração que existem, que eu também conheço. Podem ter um fundo, se são verdade ou não? Não estou aqui a debater isso porque não tenho conhecimento.)

Eu só posso dizer que houve caos e que o caos nunca é planeado, acontece.
A partir desse caos, viraram-se para quem tinha certezas. A OMS dava certezas e não quiseram saber se estava a falar em nome de A, B ou C. Eles estão a dizer que é assim que se faz, vamos seguir aquilo.

E depois, é [o efeito de] bola de neve – a Itália fechou, e a partir do momento em que Itália fechou, o que é que os outros países iam fazer? A Itália estava a ter picos de mortalidade e a televisão não sabia explicar o que estava a acontecer. Não davam oportunidade a pessoas sensatas de explicar: “tenham calma, temos que ver a mortalidade geral e não a mortalidade associada à doença”. É caos.

“Eu acho que houve um grande caos inicial. E quando há caos, os políticos viram-se para quem dá certezas.”

Nós temos que entender que isto foi caótico inicialmente e ainda vai ter que ser bem explicado e que os políticos se limitaram a reagir à comunicação social.

Agora, depois do que se passou a seguir, para mim já foram interesses económicos a aproveitarem-se do caos e tentarem ganhar dinheiro com isso.

Eu entrevistei o Dr. Robert Malone e ele tem patentes da vacina [mRNA]. Ele anda a falar mal da vacina, mas está a ganhar dinheiro com ela. E a certa altura ele disse uma coisa: “vocês não têm noção da quantidade de dinheiro que está a ser gerida no negócio das vacinas de mRNA neste momento”.

Quando há caos e há ações, e depois metem-se interesses grandes, é muito difícil parar o barco. E eu acho que agora que há um período de acalmia e que as pessoas voltaram a ligar o córtex pré-frontal. É a altura de debater estas questões.

Falou há pouco da desinformação e naquilo que tem acontecido com algumas das pessoas que participam neste congresso, incluindo a censura nas redes sociais. Têm sentido isso em relação aos temas que vão abordar na conferência?

Bastante. É um tema que não vai ser debatido diretamente na conferência, mas está inserido [no painel das] medidas draconianas.

Eu posso falar pela minha parte. Eu, por exemplo, enquanto médica dentista, fiz parte [do movimento] Médicos pela Verdade. Tive um processo disciplinar na Ordem dos Médicos Dentistas em que fui acusada de ter espalhado desinformação sobre as máscaras e de ter posto em risco a vida das pessoas.

Marta Gameiro é médica dentista e entrevistou cerca de 70 pessoas para o seu canal sobre a gestão da pandemia covid-19

E o que eu digo sobre as máscaras? Eu não estou a inventar. Não há evidência científica, logo em 2020, e até à data, que indique que as máscaras tenham efeitos no impedimento da passagem de vírus respiratórios. Não há evidência. Em 2020 não havia evidência. A própria OMS, apesar de ter páginas e páginas de recomendações, disse logo no início, e até à data: a evidência é muito fraca na eficácia das máscaras no controlo de doenças respiratórias.

E eu, por ter dito isto, que elas não serviam para nada, levei com um processo disciplinar na ordem. Eu, como médica, posso dar as indicações que me parecem melhor, de acordo com a evidência que existe. Eu não disse nenhuma mentira, mas levei um processo disciplinar porque não se enquadrava com as regras que a DGS estava a implementar.

O que acha que está por trás das ações feitas pelas empresas que detêm as redes sociais relativamente à classificação de desinformação? Serão as próprias redes sociais a classificá-la ou seguem orientações da OMS ou de governos?

O que as pessoas têm que perceber é que tanto o Facebook, Google, Twitter e mais essas redes sociais, são tudo empresas privadas. Trabalham para o lucro.

No início da pandemia, criou-se o Trusted News Initiative. Foi uma cooperação entre vários órgãos de comunicação social para seguirem diretrizes para ajudarem a controlar e erradicar o vírus. Só aquele tipo de informação que eles considerassem verdadeiros, que era o que vinha da OMS, da CDC [agência norte-americana de controlo de doenças], é que seria considerado verdadeiro. Tudo o resto que contradissesse era conotado de desinformação.

As grandes empresas mundiais de informação estão todas a trabalhar no mesmo sentido. Logo aí já é mau porque não há contraditório. Parece que há um consenso, mas é um consenso fabricado.

Depois nós temos que ter a noção de que o jornalismo hoje em dia é precário. Os jornalistas são mal pagos, têm que fazer coisas muito rápidas em cima do joelho. Muitas vezes, as notícias que passam para cá fora vêm diretamente da agência noticiosa, é copy-paste.

“As grandes empresas mundiais de informação estão todas a trabalhar no mesmo sentido. Logo aí já é mau porque não há contraditório. Parece que há um consenso, mas é um consenso fabricado.”

Muitas vezes, as empresas que lhes dão as notícias já sabem como eles trabalham, já lhes mandam a notícia estruturada e até aconselham o título. Ou seja, imaginemos, no contexto de farmacêuticas, a fazer marketing. Mando a notícia para a Reuters, para a Lusa, já feita. Eles pegam, publicam, e todos os outros jornais que publicam só fazem copy-paste. E assim se passam estas mensagens.

Portanto, as pessoas quando leem a comunicação social, têm que ter todos estes pontos presentes e começar a ter uma análise crítica sobre aquilo que leem. Não vou dizer que tudo o que está nas redes sociais é verdade. Há muita coisa que é fabricada. Mas nós estamos numa nova era de informação, temos que aprender a interpretá-la.

Temos que ter uma análise crítica. É muito cansativo. Nós também erramos. Eu própria já partilhei coisas que eram falsas.

Mas entende que esse fenómeno existe, da desinformação deliberada? Isto é, grupo de pessoas que tentam mesmo fazer passar informação falsa com determinados objetivos.

Sim, isso existe. Às vezes, nem é bem a informação ser falsa, não é verdadeira. Eu consigo fazer uma notícia em que tudo o que está lá escrito é verdade. E, no entanto, a maneira como eu encadeio as frases dá a entender uma mentira. É o que se chama “falar a verdade a mentir”, já dizia o saudoso Almeida Garrett. Isto são fenómenos antigos, mas que se perpetuam no tempo.

Tem falado da comunicação social, das autoridades de saúde e do Governo. Foram endereçados convites a essas entidades para participarem na conferência?

Eu não quero que me interpretem mal, mas eu acho que já tiveram tempo de antena suficiente e o objetivo da conferência não é esse. É dar tempo de antena aos outros. Eu vou convidá-los, sim, mas para estarem presentes e, se quiserem fazer perguntas ou debater, isso sim.

“Vi um fenómeno a acontecer: a outra pessoa, na defensiva, entra com o moralmente correto. E quando se entra com o moralmente correto, as outras pessoas retraem-se. E eu não quero este tipo de jogo sujo. Eu quero que as pessoas se sintam à vontade para falar o que pensam.”

Há uma coisa que eu já vi nesse tipo de debates onde se pede para ouvir o contraditório. Vi um fenómeno a acontecer: a outra pessoa, na defensiva, entra com o moralmente correto. E quando se entra com o moralmente correto, as outras pessoas retraem-se. E eu não quero este tipo de jogo sujo. Eu quero que as pessoas se sintam à vontade para falar o que pensam.

Na carta disponível no site do Congresso escreveu a frase “pretende-se criar um meio não hostil do debate”. É essa a hostilidade a que se refere?

Sim, é essa hostilidade. É essa passivo-agressividade muito sugestiva. muito subtil onde dizem: “sim, mas eu só quero o bem das pessoas”. Mas nós também queremos. Só que parece que a nossa maneira de querer o bem das pessoas é, de alguma maneira, má? Não é má, é só outra forma de gerir as coisas.

Muitas vezes, a pessoa bondosa não é aquela que está a segurar a mão, é a que está a mover céus e terra para ver se arranja um médico para vir ajudá-la. Parece que a bondosa é aquela pessoa que está ali todo o dia a segurar na mão. Também é uma forma de bondade, mas não salva ninguém. Às vezes, são outras coisas que se têm que fazer, que vão funcionar na mesma e que também estão a ajudar. Só que, como não são tão visíveis, parece que nós é que somos os maus e os outros é que são os bons.

O logotipo do Congresso Internacional sobre Gestão de Pandemias/Saúde

Eu acho que a DGS – e todas as pessoas que, de certa maneira, defenderam a maneira como as coisas aconteceram – jogaram muito esse jogo. Do género: “tudo o que é visível nós vamos fazer e nós é que somos as boas pessoas”. “Estas pessoas que não aceitam isto são de extrema-direita e o discurso de ódio e blá, blá, blá”.

Nós já estamos a ver o que se vai passar à frente. E, às vezes, para se salvar agora, tem que se pensar no que está à frente. Esta visão de longo prazo é que salva vidas. Não é meter um penso rápido e rezar para que as coisas funcionem.

Recentemente, falou de uma intimidação à Câmara Municipal de Ourém por estar a apoiar o Congresso.

A Câmara fez um apoio muito subtil. Eu fui lá pedir, com um pedido formal, sem expectativa nenhuma, do género “atirar o barro à parede para ver se pega”. O pedido centrava-se mais em dar oportunidade aos estrangeiros que estão cá fazer um pouco de turismo pela região [Fátima].

Eu expliquei ao presidente da Câmara o que era e a Câmara aceitou, muito gentilmente. Talvez tenha tido a sorte de não ser do partido que está atualmente no Governo. Assim que anunciei o apoio, a Câmara recebeu muitos emails de pessoas indignadas: “como é que é possível, a câmara apoiar uma coisa destas?”

Eu duvido muito que sejam pessoas indignadas, até porque eu só anunciei isto num nicho muito pequeno de pessoas que estão interessadas no assunto. Eu duvido que alguém que não esteja interessado no assunto me siga. Eu tenho a certeza que são as mesmas pessoas que nos últimos dois anos andou a mandar emails a mim e a outras pessoas da Resistência, conforme eu digo.

São de muito baixo nível, intimidatórios, chamam tudo e mais alguma coisa. São as mesmas pessoas que andam a fazer queixinhas à Ordem, de mim e de várias pessoas – todas aquelas que alguma vez disseram alguma coisa contra isto. Suponho que seja este tipo de emails que estão a ser recebidos pela Câmara de Ourém.

Eu acho muito triste porque cada pessoa é livre de ter a sua opinião. Quem está na política está habituado a este tipo de coisas. Não sei se eles [a Câmara] vão voltar atrás no seu apoio, eu espero que não.


A entrevista completa pode ser visionada no canal The Blind Spot do Odysee.

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