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O Decálogo do «Great Reject»: necessitamos de uma revolução de consciência

Quem não conhece a história está condenada a repeti-la. Desde que o mundo é mundo, a regra tem sido uns poucos governarem todos os outros, decidindo como se deve pensar e viver. Mas os interesses particulares foram sempre a bússola do comportamento das oligarquias, fenómeno identificado pelos gregos de forma magistral. Por isso, pode-se dizer que nada do que vivemos é novo. A novidade surge, quase sempre, na modalidade com que as «coisas» da vida nos são apresentadas. Importa despertar as consciências para a revolução subversiva em curso e consubstanciada no projeto de natureza totalitária como é o «Grande Reset» de Davos. Michael Rectenwald inspira-nos a agir e gerar um movimento contra-revolucionário antitotalitário, promotor da tradição liberal ocidental, das liberdades individuais e da autodeterminação humana.

A inversão da natureza da linguagem moderna: quando tudo parece o seu contrário.

Parece, não é? Mas não. Dito de outro modo, parece o seu contrário porque é mesmo o seu contrário! Digamos que há uma certa tendência atual para um certo tique de linguagem, ou seja, dizermos uma coisa mas querermos dizer o seu contrário.

Bem, na realidade e vendo bem, parece que cada vez que se fala em democracia até parece que é verdade. Porém, quando depois vamos esmiuçar o sentido …. Existe sempre um travo amargo a autoritarismo. Aliás, a moda pegou e vem de cima. Até parece que o Fórum Económico Mundial (FEM) contribui para o fim das economias nacionais, embora as sugestões que apresente visem a melhoria dos povos. Como foi o caso do «planeamento» proposto para a modernização da agricultura no Sri Lanka (desistência dos fertilizantes) e zás! A agricultura colapsou deixando o país à beira da ruína, da fome, da revolta e da perseguição realizada a políticos. Não sabia? Ah, é verdade, não passou nos meios tradicionais. Mas veja ainda o caso dos investimentos na FTX. A empresa fortaleceu a sua carteira de investidores, sendo uma empresa confirmadíssima pelo Fórum Económico Mundial e … zás! Sam Bankman levou a empresa à falência, num dos mais badalados e históricos esquemas de Ponzi. Faliu, arrastando milhões de dólares cujo destino todos sabemos. Não sabia? Basta «googlar» um pouco e logo vê. E foi também o FEM que previu o lado brilhante dos confinamentos – serviriam como uma oportunidade de melhoria para as cidades –, quando a realidade contradiz aquele ato de fé e todos assistimos à degradação do espaço urbano.

Compreender a situação presente: o engano da reinicialização do capitalismo

Ora, cansado desta conversa hilariante, Michael Rectenwald resumiu a situação presente da seguinte forma. O «capitalismo de stakeholders» é apenas uma forma simplificada para se referir o fascismo económico. Ou seja, quando estamos a ser levados a acreditar que o capitalismo faliu, levou-nos à falência assim como à falência dos Estados modernos com as dívidas soberanas insolventes e, por isso, tem de ser reiniciado, afinal de contas estamos a ser enganados porque a história é outra.

E o que nos diz a história? Lembra-se como nos enganam século após século à custa das declarações? Em toda a história da humanidade, chegavam uns e diziam para outros que, a partir de então, eram eles que mandavam  – quer fosse porque tinham a roda, quer fosse porque tinham o poder dos bacamartes. Posteriormente, uns dominaram os outros com o poder da fábrica e dos caminhos de ferro … isso mesmo, já está recordado. Ora, é isso tudo que também hoje ocorre. E vejamos como.

Este capitalismo por declaração, tenhamos bem presente, não é senão aquele «capitalismo de stakeholders». E, quando queremos verdadeiramente entender o seu significado, basta pensar no seu contrário (aquela regra da inversão de linguagem acima referida), ficando assim mais claro que este novo tipo de capitalismo remodelado afinal é, apenas, uma espécie fascismo económico com laivos de socialismo corporativo – ou, melhor resumido, no fascismo corporativo. Parece uma contradição, não é verdade? Ora, esta confusão é mesmo um dos objetivos desta nova Fé de reiniciação, repetida até à exaustão.

Mas afinal, este capitalismo «resetado» ou «reiniciado» não é senão uma renovação do fascismo económico que conhecemos na história europeia, alemã e italiana em particular – que alia um sistema de planificação central com as regras definidas pelo Estado, à gestão económica entregue a grandes empresas.

Significa isto que, se desmontarmos a «coisa», vemos o seguinte. À primeira vista, parece que «capitalismo de stakeholders» é a melhor oportunidade de reinicialização do sistema capitalista porque, se é certo que beneficia acionistas, também beneficia clientes, empregados, fornecedores, comunidades locais, toda a sociedade e o ecossistema Terra.

Contudo, como diz o ditado popular «O seguro morreu de velho, mas o desconfiado ainda está vivo» (em Itália são mais drásticos porque dizem ‘Confiar, é bom. Mas não confiar, é melhor»). Ou ainda aqueloutro «É bom demais para ser verdade.». Ou ainda o outro «Alguma vez o Estado agiu a prol dos cidadãos?». Por isso desengane-se porque a estratégia de ilusão ou a «estratégia da decepção», consoante a queira designar, vem justamente da ideia boazinha. Porque «quando a esmola é muita, o pobre desconfia.» E desconfia-se onde? E como?

Desconfia-se em dois níveis. Primeiro, porque nos dizem, eufemisticamente, que é a única reforma possível e garante da sustentabilidade do planeta (eufemisticamente porque estão a suavizar – na realidade, impõem; por isso, não vá já a correr pensar que vai inventar uma nova ideia). Segundo, porque esta cooperação ou aliança corporativa e estatal é, na prática, o seguinte: os Estados impõem as respostas a problemas ecológicos, mas são as corporações que lideram a gestão das atividades do Estado.

Passemos aos factos. Fica assim, claro como a água, por que razão Mme Lagarde anunciou em 2014, se a memória não me falha, que o modelo do Estado soberano estava gasto. Também fica mais claro quando a mesma líder do FMI anunciou, creio que um ano depois, que os gastos com as reformas não eram mais sustentáveis. Só assim compreendemos a razão pela qual uma grande empresa consultora foi a responsável pela conceção e pela gestão francesa da política de crise em 2020, apesar do escândalo que foi. E por que razão foi um escândalo?  Foi um escândalo porque, vencida a crise, emergiu uma situação complexa de explicar e justificar à sociedade francesa: se a burocracia pública francesa era das mais competentes, eficazes e eficientes do mundo, por que razão o poder político tinha contratado uma empresa para gerir a crise pandémica? Qual a razão deste atestado de incompetência a milhares de funcionários públicos e políticos franceses? E qual a razão deste esforço financeiro, ao pagar duplamente as mesmas funções com base nos impostos dos cidadãos? O tribunal já resolveu.

O decálogo do «Great Refusal» – o botão da livre escolha e a recusa da «desfranchisação»

Enquanto o homem não desistir de pensar, há sempre uma porta aberta. Aliás, como refere Michael Rectenwald, um brilhante académico norte-americano e grande defensor da livre discussão de ideias, todos os movimentos que utilizaram como nome a palavra «grande» acabaram em grandes falhanços, com grandes falhados. Constituem disso exemplos que todos conhecemos da história recente como «o grande salto em frente». Estes grandes projetos constituíram uma aposta numa «oportunidade de melhoria» das sociedades, mas tiveram resultados desastrosos. Por isso, acautele-se quando entrega a sua fé num grande projeto!

E apesar de vivermos numa sociedade líquida, tão líquida que a linguagem moderna usada já significa o seu contrário, acreditamos que há sempre novas soluções para problemas persistentes ou emergentes. Os desafios devem constituir-se como oportunidades para nos instigarem à ação. Michael Rectenwald assumiu esse desafio e lançou um conjunto de ideias para se vencer o totalitarismo que o «capitalismo de stakeholders» ou fascismo económico pretende impor em todo o mundo.

A livre escolha começa por ser exercida através da liberdade de pensamento que permite identificar a situação em que vivemos, e compreender melhor a natureza do projeto da globalização em curso. E este projeto significa uma visão monopolista da economia através dos ESG (conjunto de regras obrigatórias na área da economia, da sociedade e da governance, dirigidas a todas as organizações), o controlo total da população garantida pelo Estado e apoiada numa estrutura de vigilância total, o que permite simultaneamente a exclusão de qualquer forma de competição e a concentração da criação de riqueza apenas para uns poucos. Acresce-se que, afim de descredibilizar os seus críticos, o FEM são a origem de teorias de conspiração, limitando assim qualquer fórum de discussão livre.

Esta sistematização pode ser resumida num conjunto de estratégias contrarrevolucionárias perante a tentativa revolucionária subversiva em curso, liderada pelo FEM:

1.Recusar Moeda Digital do Banco Central – é programada, só lhe permite comprar o que o banco deixar, é considerada como a última etapa do controlo totalitário sobre o indivíduo;

2. Recusar a Internet das Coisas – recusar a instalação de dispositivos tecnológicos no corpo humano conectados não essenciais, recuse o transumanismo;

3. Recusar a Identidade Digital – insistir no direito à privacidade;

4. Recusar a política de «inclusão» – de acordo com a linguagem moderna, o que a inclusão significa é que, não só não haverá possibilidade de viver conforme as suas ideias como também não haverá lugar para viver fora de um certo «sistema inclusivo» definido pelo Estado;

5. Praticar o livre mercado, tornando-o bem vivo e expressivo;

6. Desinvestir no protocolo ESG;

7. Remover o dinheiro das empresas e dos fundos ESG – como fez recentemente o governador do Estado do Texas, quando retirou certos fundos do Estado da gestora de fundos BlackRock. O mesmo aconteceu com o Estado do Texas e muitos outros estados os seguiram. Identificar e expor as empresas que a ele aderem. Até porque, quer a Blackrock quer a Vanguard deixaram de seguir o protocolo ESG;

8. Promover a saída das nossas elites das agendas globalistas;

9. Desenvolver redes de relações com indivíduos que partilhem esta nossa visão e partilhá-las digital e analogicamente;

10. Manter a esperança viva e promover grupos de livre discussão.

Oriundo de uma família de origem católica e com tradições germânicas, Michael Rectenwald é um especialista do secularismo e do movimento de livre pensamento novecentista. A sua fulgurante carreira enquanto pensador e professor universitário levou-o a trabalhar em várias prestigiosas instituições norte-americanas, tendo terminado o seu percurso na Universidade de Nova Iorque onde foi professor de Estudos Liberais e Estudos Liberais Globais.

Defensor convicto da liberdade de escolha e no poder do indivíduo, insta os cidadãos, por esse mundo fora, a deixar um legado às próximas gerações sobre as liberdades individuais e a autodeterminação humana. Só assim é possível parar a tentativa atual de «desfranchizar» o cidadão, política e economicamente, recusar a imposição da solidão e expandir a livre circulação e discussão de ideias.

A importância de se chamar Pureza e Isabel – «Yes we can»

O que fazer? Olhe, quando pensava nesta pergunta veio à lembrança a saga de Pureza Loyola. Uma mãe brasileira de Bacabal (Maranhão) que procurou o filho entre 1993 e 1996 enquanto percorria os estados do Maranhão e do Pará. O filho, um pobre oleiro, partira uns anos antes à procura de vida melhor e nunca mais dera notícias. Como nunca mais chegava, a mãe foi à sua procura, mas pelo caminho, enquanto oferecia o seu trabalho como cozinheira ou empregada de limpeza para financiar a procura, viu a obra da «escravatura moderna» nas fazendas em que trabalhava. Foi registando factos e denunciou-os. Na era de Fernando Henriques Cardoso inauguraram-se uns quantos grupos móveis do Ministério Público do Trabalho que, em colaboração com a Polícia, foram percorrendo fazendas e libertando pessoas. Segundo as fontes da época, cerca de 50 000 pessoas tinham sido libertadas.

Pureza ter-se-á recordado da «Lei Áurea». É possível que esta pequena história também tenha um pouco de romance. Mas o importante é que ela exemplifica a renovação do espírito de 1888 quando a princesa Isabel do Brasil, uma abolicionista convicta, confirmou o fim da escravatura, sabendo que este ideal poderia colocar em causa o regime. E assim foi, a república seria proclamada pouco tempo depois. Ou seja, por muito injusta que seja a ocasião que esteja a viver, há sempre uma forma de contornar o que parece impossível. E a natureza humana que transportamos em nós resplandece nos momentos mais críticos e inspira-nos para a ação. Esta natureza humana afinal, tem uma matriz divina, como sugere Gregg Braden ao estudar as relações entre ciência e espiritualidade. Mas este tema fica para o próximo capítulo. Termino com um pensamento de Ayn Rand, aquele que diz assim: «É estranho como as coisas se tornam simples, assim que as vemos com clareza.». Recorde sempre. Quem não conhece a história está condenada a repeti-la.

Mónica Rodrigues

Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).

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