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O Digital Services Act na União Europeia: combate à desinformação ou censura encapotada?

A tendência para o controlo da informação nas redes sociais é uma preocupação partilhada pela União Europeia e pela Organização das Nações Unidas na atualidade. Os limites desse controlo levantam, contudo, algumas preocupações no que diz respeito à liberdade de informação fazendo do caso norte-americano o seu exemplo mais acabado.

Já no próximo dia 25 de agosto entra em vigor o pacote do Digital Services Act (DAS) e onde se pode ler que o seu objetivo fundamental é «a regulação … no campo da proteção do espaço digital contra a disseminação de conteúdos ilegais e a proteção dos direitos fundamentais dos usuários.».  Trata-se de um pacote legislativo que inclui o Digital Services Act (DSC) e o Digital Market Act (DMA), legislação adotada em 2022.

Este instrumento legal visa sobretudo a regulação de uma variedade de agentes como «os social media, os marketplaces online, as grandes plataformas online (VLOPs) e os grandes motores de busca online (VLOSEs).».  Estende ainda o seu braço regulador a outros setores tais como as «vendas de produtos e serviços online ilegais», a «proteção de menores», as «informações pessoais» e todas as práticas que promovam informação enganadora.

Pode ler-se no DAS que o seu principal fundamento é a restrição de toda a informação que possa colocar uma ameaça séria à segurança pública ou à saúde pública. Esta necessidade resulta da transformação recente ocorrida na sociedade europeia no que diz respeito à preponderância crescente das plataformas, enquanto «gatekeepers» entre o negócio e os usuários da internet. Também nele podemos identificar os seus valores subjacentes como:  transparência,  justiça e  segurança no ambiente digital.

Recentemente, a Comissão Europeia identificou as primeiras dezanove plataformas e motores de busca que deverão ser conformes à nova legislação até 25 de agosto de 2023, e no espaço europeu que conta com mais de quarenta e cinco milhões de utilizadores, como: Wikipedia, You Tube, Zalando, Twitter, Tik Tok, Alibaba, AliExpress, Google Play, Google Maps, Google Search, Google Shopping, Amazon Store, AppStore da Apple, Bing, Booking.com, Facebook, Pinterest, Linkedin e Snapchat.

Censura encapotada

Mas, para outros analistas como David Hunder, investigador e professor de filosofia política, este «… ambiente legal na Europa irá ser mais hostil à liberdade de expressão porque é uma porta dos fundos à expansão tentacular do poder burocrático da Europa junto das empresas de social media.». Ou seja, trata-se de uma tentativa mascarada para censurar os conteúdos disponibilizados em plataformas online.

Uma tendência em crescimento: a ONU e o caso norte-americano

Semelhante tentativa regulatória marca a tendência na Organização das Nações Unidas (ONU) e nos Estados Unidos da América (EUA). No primeiro caso, com o projeto iVerify a ONU tem um instrumento automatizado de «fact-checking» com o intuito de identificar a informação falsa, podendo-se assim inibir imediatamente a sua disseminação.

No caso norte-americano, a tendência de exercer controlo sobre a publicação da informação levou a certos exageros da administração norte-americana. Por isso, e muito recentemente, um juiz federal proibiu a administração Biden de qualquer tipo de censura através dos meios de comunicação social por violar a Primeira Emenda, sendo esta a garante da liberdade de expressão de pensamento. Esta tendência da administração Biden terá levado Toby Rogers a identificá-la como uma espécie de aliança profana» negociada entre «o capital, o pós-modernismo e a esquerda autoritária».

Referências

The Digital Services Act (DSA) (eu-digital-services-act.com)

IVERIFY | United Nations Development Programme (undp.org)

Os cidadãos da União e respetivos direitos | Fichas temáticas sobre a União Europeia | Parlamento Europeu (europa.eu)

Ver também:

“Somos os donos da Ciência” afirma representante da ONU no Fórum Económico Mundial

ABC censura entrevista de candidato presidencial RJK Jr.

Antiga política do Twitter suportava censura de afirmações verdadeiras

Censura científica no Facebook com base em erros e omissões de dois fact checkers

Redes sociais censuraram notícias de investigação do FBI ao filho de Joe Biden

BMJ denuncia política de censura dos fact-checkers do Facebook

Mónica Rodrigues

Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).

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