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Prática bancária pode justificar o recente fecho de contas a dissidentes

Mais de 1000 contas bancárias são fechadas no Reino Unido por dia. Alguns destes encerramentos parecem constituir um icebergue do qual «Caso Farage» pode ser apenas o seu topo visível. Isto porque, esta parece ser uma prática das instituições bancárias britânicas desde 2016-2017, e pode significar uma interpretação «zelosa» que estas fazem do estatuto das Pessoas com Exposição Pública. São várias as vozes apreensivas com a limitação do direito à liberdade de pensamento e ao cancelamento, podendo fazer perigar o próprio conceito de democracia.

Todos os dias, um número superior a 1.000 contas bancárias  são fechadas no Reino Unido e parece ter atingido já mais de 45.000 contas desde 2016-2017, um verdadeiro escândalo nas palavras de Nigel Farage, antigo líder do Partido Liberal britânico.

Chris Philip, Secretário da Economia do Tesouro britânico e Ministro da City, admitiu recentemente que o fecho de contas pode resultar de uma nova interpretação mais restrita relativamente à política bancária no que diz respeito a Pessoas com Exposição Pública (PEP), no Reino Unido.

O Ministro da City reconhece ainda que o sucedido a Nigel Farage é apenas o exemplo mais mediático desta crise, agravada pela quantidade de PEP e respetivos membros familiares, grupo este no seio do qual também se encontra a sua família mais próxima. E conclui que «Neste país acreditamos na Liberdade de expressão e tal significa que a ninguém deveria ser negado o acesso a serviços bancários.».

Fonte: Many MPs falling foul of bank rules on ‘politically exposed persons’, says Philp | Banking | The Guardian

Em inícios de julho, também o chanceler britânico Jeremy Hunt tinha denunciado idêntica situação relativamente ao banco Monzo, acreditando que a razão estaria relacionada com o seu estatuto PEP.

Mas também Gina Miller, líder do partido «Verdade e Justiça», veio na última semana manifestar a sua apreensão com o anunciado fecho da conta bancária do seu partido pelo banco Monzo, depois de lhe ter sido negado a abertura de conta bancária por outras nove instituições, em novembro de 2021.

Nos Estados Unidos, o médico Joseph Mercola expôs recentemente como acaba de viver uma situação semelhante, com o intuito de avisar o público. E denunciou que «o JP Morgan informou-me que estão a fechar todas as minhas contas de negócios, quer as pessoais quer as de investimentos, assim como as contas do meu CEO e do meu CFO e respetivas mulheres e filhos.».

Fundamentos

O cumprimento legal da avaliação dos riscos acarretados pelos clientes é uma prática bancária obrigatória. Mas, de acordo com algumas instituições bancárias, a relevância no caso das PEP é maior porque o risco aumenta em virtude da potencial prática de corrupção, da potencial cobertura mediática negativa e do uso das contas nos média social, situações estas passíveis de incorrer em atividades de natureza criminosa.

Reações

Ora Nigel Farage o político britânico que expôs publicamente o seu caso, defende que existe uma nova interpretação do protocolo legal existente relativamente às PEP, e esta inaugura, em sua opinião, aquilo que classificou como um caso de um «flagrante preconceito corporativo». E perante o alarme do número de contas fechadas diariamente, já pediu a nomeação de uma comissão real para investigar o que identifica como um escândalo nacional.

E o chanceler Jeremy Hunt  afirmou que «Se o preço por se trabalhar na vida pública é a descoberta da dificuldade em abrir uma conta bancária, então precisamos de assegurar que vamos remover as barreiras onde pudermos.».

Fonte: Jeremy Hunt says online bank Monzo rejected his account application | Financial Times (ft.com)

Já Gina Miller admitiu que o sucedido pode representar um perigo para a própria democracia.

Também do outro lado do Atlãntico, o médico norte-americano Mercola acredita que o ocorrido, sem qualquer tipo de justificação, pode vir a repetir-se rapidamente e com regularidade, associando esta nova tendência a um tipo de sistema de crédito social e às moedas centrais do banco central. Nas suas palavras «Vá contra a narrativa do dia, e a sua vida financeira será apagada com o apertar de um botão.», e assim o que pode acontecer é «Uma vez tudo digitalizado, o dinheiro em espécie erradicado e um sistema de crédito social completamente integrado e automatizado, este tipo de ação retaliadora para as coisas erradas poderia ser uma sentença de morte para algumas pessoas.».

Fonte: The Ron Paul Institute for Peace and Prosperity : Debanking Dr. Mercola

Nas palavras de Mercola, o fecho das contas terá sido o preço a pagar por ter tido o «pensamento errado» sobre a pandemia e  por ter partilhado toda a informação possível sobre a essa crise, desafiando a campanha mediática do governo.

Fonte: Chase Shuts Down Bank Accounts of Mercola and Key Employees – LewRockwell

Operações em curso

A autoridade para a Conduta Financeira foi já envolvida no processo de revisão do estatuto de PEP e aguardam-se novas reações.

Farage também revelou estar a organizar um website que possa reunir todos os casos de cidadãos britânicos cujas contas tenham sido fechadas.

Contudo, crescem as vozes apreensivas quanto ao «lado perverso» da doutrina do politicamente correto, por alegadamente não se lhe conhecerem todos os seus contornos e limites e pelo impacto que possam ter na saúde das democracias atuais.

Referências:

UK banks are closing more than 1,000 accounts every day | Banking | The Guardian

Jeremy Hunt says online bank Monzo rejected his account application | Financial Times (ft.com)

Chase Shuts Down Bank Accounts of Mercola and Key Employees – LewRockwell

Many MPs falling foul of bank rules on ‘politically exposed persons’, says Philp | Banking | The Guardian

Ler também:

Nigel Farage afirma ter conta bancária cancelada sem explicação – The Blind Spot

Caso Farage 2.0: Críticas ao cancelamento bancário por motivos ideológicos – The Blind Spot

Mónica Rodrigues

Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).

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