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O inferno do nosso desconfinamento

O título deste texto opinativo é um remake do nome do último romance de John Steinbeck, galardoado com o prémio nobel da literatura em 1962, O Inverno do Nosso Descontentamento, em que o escritor norte americano denuncia e ridiculariza uma sociedade materialista em que o culto do dinheiro mutila o homem.

A gestão da covid-19 (doença infeciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2) trouxe-nos à memória a sociedade americana do pós-guerra e o período negro do macarthismo e da caça às bruxas. Durante a pandemia foram restringidos direitos e liberdades dos cidadãos, com grave impacto na sua vida familiar, social, psicológica e económica. A liberdade de expressão pública conheceu graves restrições, prevalecendo a opinião dos comentadores de pacotilha. Vacinaram-se crianças sem isso ter validade científica, porquanto os governos estavam submetidos aos ditames da indústria farmacêutica global, vacinar a todo o custo era o lema. Violaram-se em Portugal, isto na opinião de reputados constitucionalistas, os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos através de medidas implementadas fora do quadro de emergência ou do estado de sítio. Não enveredamos, contudo, pela linha dita de negacionista, tão-pouco pela teoria da conspiração. Importa-nos sobretudo fazer um juízo sério, fora de uma espécie de narrativa oficial refém de agendas economicistas ou mesmo antidemocráticas.

Morreram milhares de pessoas com outras doenças, negligenciadas com a “obsessão covid”, e isso não pareceu preocupar as autoridades sanitárias. Todos os dias nos chegavam relatos de pacientes que, desde que nos aflige a pandemia, foram desaconselhados ou impedidos de ter as consultas, os tratamentos e até as operações cirúrgicas de que necessitavam, de fazer as sessões de fisioterapia (casos de vítimas de AVC, de deficientes motores e mentais, acidentados), de realizar análises, vacinas e exames, ou mesmo de ser internados em cuidados continuados ou paliativos.

Mas os efeitos mundiais da pandemia incluíram (e incluem) o genocídio dos mais velhos, quase que parabolizando a ideia de um ministro japonês que não há muito tempo afirmava que o sistema da segurança social só teria sustentabilidade se morressem mais idosos ou uma certa agenda verde que preconiza a diminuição da população mundial. A guerra que os cidadãos de todo o mundo enfrentaram não é “meramente” biológica, é também económica e humanitária no sentido lato. Ainda hoje, informalmente extinta a crise pandémica, as marcas fazem-se sentir, sobretudo ao nível da saúde física e mental, e não parece haver das lideranças políticas do chamado mundo livre uma resposta cabal para as sequelas.

Como afirmam no livro «Salvar o SNS» João Semedo e António Arnault, infelizmente já desaparecidos, “o SNS foi sempre perdendo capacidade instalada, capacidade de resposta à crescente procura dos seus serviços”. Ou seja, o SNS deveria já ter criado ou reservado espaços hospitalares específicos para a prevenção e o tratamento da covid-19 ou de outras epidemias que venham a ocorrer no futuro reabilitando, por exemplo, o edificado onde outrora se prestava serviço sanitário, como os antigos sanatórios das serras do Caramulo e de Valongo, só para citar estes, que nesta III República foram votados ao mais miserável abandono e saque.

Por outro lado, acresce que o clima de terror psicológico e de pânico gerado quer pelos media quer pelas autoridades de saúde não ajudaram à saúde metal da população.

Esta “gripe chinesa”, porque na verdade segundo a opinião mundial prevalecente o vírus da Sars-Cov-9 proveio de Wuhan, propagou-se a todo o planeta por crime ou negligência das autoridades chinesas e do regime do partido único que lá vigora.

A “gripe espanhola” fora uma vasta e mortal pandemia do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infetou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época. Estima-se que o número de mortos esteja entre 17 milhões e 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões, tornando-a uma das epidemias mais mortais da história da humanidade. Os censores da primeira Guerra Mundial, procuraram minimizar a sua mortandade na Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos. Tal como hoje, a narrativa oficial era manipular a opinião, e assim relatavam preferencialmente os efeitos da pandemia em Espanha, que se manteve neutra no conflito bélico, como a grave enfermidade que acometeu o rei Afonso XIII. Tais artigos criaram a falsa impressão de que a Espanha estava sendo especialmente atingida. Consequentemente, a pandemia tornou-se conhecida como “gripe espanhola”, sendo que os dados históricos e epidemiológicos são insuficientes para identificar com segurança a origem geográfica desta pandemia, com diferentes pontos de vista sobre sua origem.

“Há dias que ficarão para sempre!”, reagiu o primeiro-ministro António Costa ao arranque da vacinação em Portugal contra a covid-19, como se a peçonha “chinesa” ficasse irremediavelmente erradicada, quer nas suas consequências para a saúde física e/ou mental dos cidadãos, quer no plano económico-social das comunidades.

As policies que os cidadãos discutem online, e que constituem o novo paradigma do pensamento e do debate político, foram completamente subjugadas à mediatização esmagadora do vírus SARS coV-2, gerador da crise sanitária que nos infernou a vida, como se de uma pandemia “mediacrática” também se tratasse. A pandemia esbateu as diferenças entre a esquerda e a direita, unidas no mesmo propósito de refrear liberdades e garantias dos cidadãos, violando sistematicamente o direito constitucional que até aqui era ponto de honra dos programas partidários. Não houve uma visão ideológica da covid!

Este “extermínio” pós-moderno a que chamamos pandemia teve e tem consequências inevitáveis e ainda imprevisíveis no exercício da democracia, como as já percetíveis restrições dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, muitas vezes inconstitucionais, no chamado “mundo livre” e na civilização ocidental tal como hoje a conhecemos.

A biopolítica e todos os seus pressupostos é precisamente o ponto que tem sido tangente a todo o processo de vacinação já que a Liberdade é hoje entendida não mais como adquirida, mas antes apenas um privilégio dado àqueles que aceitem se “proteger” a si e aos outros através de uma confiança inabalável na ciência que para os mais distraídos foi precisamente o que conduziu a um nefasto passado recente: a crença acrítica e quase divina na ciência e no positivismo, sem qualquer tipo de juízo e reflexão crítica, e receio que novamente estejamos a enveredar para lá a passos de gigante.

É sobre esse vazio reflexivo que no futuro o debate se deve centrar, e não numa inefável aceitação per se da narrativa e do construto político vigente. Só assim poderemos tomar determinadas decisões conscientes e sem ruído baseadas em factos e dados sem recusar por recusar ou adotar por adotar e, pior, colocar entraves e restrições ou manipular a opinião de forma sub-reptícia.

Carlos Magalhães

Fundador do MAIS – Movimento de Cidadania Independente e do MCD – Movimento de Cidadania Democrática

Dirigente da PASC – Casa da Cidadania.

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