Controlar as chamadas “Epidemias Controladas” desenvolvidas pelo Pentágono é o mais recente objetivo da Rússia, ao pedir uma investigação internacional às atividades dos laboratórios norte americanos. Robert Kennedy Jr. tinha já alertado para o assunto dos laboratórios biológicos com duplo uso, civil e militar, após o “Patriot Act” elaborado na sequência do atentado do 11 de setembro de 2001.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou no passado dia 15, em conferência de imprensa, que o Pentágono está a trabalhar na criação das chamadas “epidemias controladas” e pediu uma investigação internacional sobre as atividades dos laboratórios biológicos dos EUA.
A conferência de Imprensa do Major-General Kirillov
“Observamos repetidamente que o trabalho dos biólogos militares dos EUA visa a criação de ‘epidemias controladas artificialmente’ e que não são monitorizadas no âmbito da BTWC (Convenção sobre Armas Biológicas ou Tóxicas) e do mecanismo do secretário-geral da ONU para investigar o uso de armas biológicas”, disse Igor Kirillov, chefe das Tropas de Defesa Química e Biológica das Forças Armadas da Rússia, numa conferência de imprensa em 15 de Janeiro deste mês, citado pela agência noticiosa Interfax.
Segundo ele, “A previsão do desenvolvimento da situação pressupõe uma maior deterioração da situação epidémica com possível formação de focos artificiais de doenças e expansão descontrolada da área dos vetores.”, e continuando, “Nos últimos dois anos, um aumento no número de mosquitos-tigre-asiático não endémicos já foi registrado no sul e no centro da Europa. Na Alemanha, populações dessa espécie estabeleceram-se em cinco distritos federais. Outra espécie de mosquito, que é um vetor da febre do Nilo Ocidental, foi identificada na Suécia e na Finlândia.”.
De facto, como refere Kirillov, “Ao mesmo tempo, foi observado nos países da UE um aumento na incidência de infecções incaracterísticas transmitidas por vetores. Durante o ano, mais pessoas infectadas com dengue foram registradas na Europa do que na década anterior. Também foi registrado um pico de incidência da febre do Nilo Ocidental – mais de mil casos, 92 deles fatais.”, concluindo que “Apesar da proibição da Assembleia Mundial da Saúde, investigadores do Instituto de Pesquisa de Doenças Infecciosas do Exército dos EUA realizaram experiências aerobiológicas usando duas estirpes do vírus da varíola. Essa situação demonstra claramente o desrespeito do governo dos EUA pelas normas internacionais de biossegurança.”.
O líder militar relata também que “Esse trabalho pode provocar uma situação epidémica de emergência à escala global, já que uma parte significativa da população se tornou suscetível à varíola e a outros ortopoxvírus em resultado da perda de imunidade da população. Um exemplo claro é a pandemia de varíola dos macacos e o aumento da incidência do vírus cowpox em todo o mundo nos últimos 10 anos.”, apontando ainda que “A escala das pesquisas de uso duplo realizadas nos Estados Unidos e os riscos biológicos globais que elas criam levantam a questão de uma investigação internacional independente.”.
Mas o Ministério da Defesa da Rússia acredita também que os militares dos EUA estão a planear expandir a sua rede de laboratórios biológicos no estrangeiro. O Major-General Kirillov afirma que “Durante o ano passado, o Pentágono desenvolveu e adotou vários documentos que preveem a expansão da rede de laboratórios biológicos controlados pelos EUA no estrangeiro e a continuação da pesquisa biológica militar fora da jurisdição nacional.”, acrescentando também que o Ministério da Defesa da Rússia “(…) recebeu materiais que confirmam que o Departamento de Defesa dos EUA havia definido tarefas para monitorar a situação biológica no Médio Oriente e na Ásia Central, territórios que fazem fronteira com a China, Turquia, Paquistão e Arábia Saudita.”.
Como apresenta no seu discurso, “Em 2023, foram criadas estruturas administrativas e técnicas – o Escritório de Preparação para Pandemias da Casa Branca e o Escritório de Saúde Global e Diplomacia do Departamento de Estado, cuja principal tarefa é implementar políticas para uma maior expansão biológico-militar.”, e relembra também que, “Embora os objetivos declarados sejam monitorar a incidência de doenças infecciosas e ajudar os países em desenvolvimento, o exemplo da Ucrânia deixou claro como está ocorrendo o aumento da capacidade biológico-militar dos EUA”.
Na realidade e até Fevereiro de 2022, o Pentágono realizava projetos na Ucrânia com o objetivo de estudar patógenos de doenças particularmente perigosas e economicamente significativas – tularemia, antraz, infecções por hantavírus”, disse Kirillov. E há apenas três meses, a 31 de Outubro de 2023, o mesmo Major-General já tinha afirmado que alguns desses projetos inacabados tinham sido deslocalizados para outros países, nomeadamente para países africanos. Pelo que, a República Democrática do Congo, Serra Leoa, Camarões e Uganda estariam agora na zona de maior interesse dos Estados Unidos.
De acordo ainda com o militar russo, a Agência Central de Inteligência dos EUA também está envolvida nos programas biológico-militares através de terceiras entidades: a Universidade Johns Hopkins e a RAND Corporation, que já haviam participado em projetos de duplo uso. A RAND, tinha usado recursos de inteligência artificial para planear ataques biológicos em larga escala, observando que os sistemas de IA são também capazes de escolher o tipo mais adequado de armazenamento de formulações biológicas, selecionando métodos de disfarce, entrega e aplicação de materiais patogénicos.
As denúncias de Robert Kennedy Jr.
Em Junho de 2023, Robert Kennedy Jr. admitiu que os Estados Unidos possuem laboratórios biológicos na Ucrânia.
Numa conversa transmitida no Twitter via Internet com o empresário americano Elon Musk, Kennedy Jr. afirmou que os laboratórios americanos estão localizados em todo o mundo, incluindo a Ucrânia, e estão a desenvolver diversas armas biológicas.
E numa outra entrevista com o comentador político Tucker Carlson no X (antigo Twitter), o político americano disse também que “Essas armas biológicas usam todos os tipos de nova biologia sintética, tecnologia CRISPR, técnicas de engenharia genética que não estavam disponíveis para uma geração anterior.”.
Mas afirmou também que “Quando o Patriot Act reabriu a corrida armamentista dos bio-laboratórios em 2001, o Pentágono começou a investir muito dinheiro em armas biológicas.”, explicando que, “(…) eles estavam nervosos naquele momento em realmente entrar em força no desenvolvimento de armas biológicas, porque se você violar a Convenção de Genebra, é algo muito grave.”. Acrescentou o que ocorreu posteriormente, “Então, eles transferiram a autoridade de biossegurança para uma agência no HHS [Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA].”.
E, concluindo, “Mas agora, quando você faz o desenvolvimento de armas biológicas, qualquer arma biológica, ela precisa de uma vacina, então você desenvolve-as ao mesmo tempo, porque em 100% dos casos em que você usa uma arma biológica, há um ‘blowback’, o seu lado também adoece.”.
Face a este assunto, as autoridades norte-americanas e europeias desmentem.
De acordo com o site da Representação da União Europeia em Portugal, “As histórias fabricadas de ‘laboratórios biológicos clandestinos dos EUA’ são um caso clássico de uma teoria da conspiração misturada com táticas alarmistas, frequentemente utilizadas pelo Kremlin para distrair e confundir. A desinformação pró-Kremlin procura esbater a fronteira entre as armas biológicas e a investigação biológica, para instigar medo e desacreditar a Ucrânia. Fontes fidedignas (…) têm repetidamente desmentido as alegações de que os laboratórios biológicos financiados pelos EUA na Ucrânia sejam utilizados para fins militares”.
Cristina Mestre
Psicóloga e tradutora
Licenciada em Neuropsicologia pela Universidade de Moscovo (MGU), nos últimos anos tem trabalhado principalmente em agências de notícias do Leste da Europa.
Referências:
🔴 Live Discussion Robert F. Kennedy Jr & Elon Musk: Presidential Candidate – YouTube
Ver também:
Inteligência artificial em operações militares: uma máquina de matar – The Blind Spot