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Químico potencialmente perigoso detetado em cereais de pequeno almoço

Um estudo recentemente publicado na revista Nature revela que um químico, suspeito de provocar graves problemas de infertilidade e de desenvolvimento em fetos, foi detetado em 90% dos americanos em 2023. O químico, que está proibido nos Estados Unidos para produção alimentar, mas não na Europa, foi detetado igualmente em populares produtos alimentares, como cereais de pequeno-almoço.

Um estudo publicado na Nature (Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology) detetou um aumento de clormequato, um regulador de crescimento vegetal suspeito de reduzir a fertilidade e prejudicar o feto em desenvolvimento, nos Estados Unidos.

A frequências de deteção foi de 69%, 74% e 90% para amostras de urina recolhidas em 2017, 2018-2022 e 2023, respetivamente.

As concentrações entre as amostras detetáveis também aumentaram significativamente. Variaram de 0,22 a 5,4, 0,11 a 4,3 e 0,27 a 52,8 µg de clormequato por grama de creatinina para as amostras de 2017, 2018-2022 e 2023, respetivamente.

Dada a curta vida in vivo do clormequato, os níveis verificados em 2023 sugerem uma exposição contínua ao químico.

Concentrações em alimentos

Na mesma investigação foram detetadas altas frequências de clormequato em alimentos à base de aveia. Das amostras de alimentos de 25 produtos convencionais à base de aveia compradas nos EUA (2022 e 2023), apenas dois não detetaram o químico.

Numa análise detalhada publicada pela Environmental Working Group, podemos mesmo verificar a deteção do químico em praticamente todos os populares produtos à base de cereais de aveia testados, incluindo marcas como a Quaker Oats e o Cheerios.

Fonte: EWG investigation: Dangerous agricultural chemical chlormequat found in popular oat-based products | Environmental Working Group

Europa com valores iguais ou superiores

Nos Estados Unidos, o clormequato apenas está aprovado para ser usado em plantas ornamentais, mas uma decisão de 2018 da Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) permitiu a importação de alimentos, principalmente grãos, tratados com o químico.

Na Europa, região em que o químico está aprovado para produção alimentar, existiam as únicas medições de clormequato urinário até este estudo.

Na Suécia, uma biomonitorização de pesticidas em mais de 1000 adolescentes documentou frequências de deteção de 100% de clormequato de 2000 a 2017. As concentrações medianas em 2017 eram de 0,86 µg de clormequato por g de creatinina e pareciam estar a diminuir (o nível mediano mais elevado foi de 2,77 em 2009).

No Reino Unido, de 2011 a 2012, a biomonitorização detetou concentrações medianas muito mais elevadas de15,1 µg por g de creatinina.

Em comparação com estes dados, os níveis medianos de amostras dos EUA de 2017 a 2022 foram inferiores. Já o nível mediano nas amostras de 2023 foi comparável às amostras da Suécia e inferior às amostras do Reino Unido.

Suspeitas de efeitos graves na saúde

Vários estudos em animais têm detetado efeitos nocivos da exposição ao químico (embora nem todos tenham chegado a essa conclusão). Entre esses efeitos estão: quebra na fertilidade, perturbações menstruais, dificuldade de acasalamento, atrasos de desenvolvimento ou alterações hormonais.

Para além disso, estudos sobre o desenvolvimento sugerem também que a exposição durante a gravidez pode desregular o crescimento e afetar o metabolismo do feto.

Conclusões dos autores do estudo

Considerando a tendência de aumento de exposiçãol, os autores concluem:

Dadas as preocupações toxicológicas associadas à exposição ao clormequato em estudos com animais e à exposição generalizada da população em geral nos países europeus, e agora também provavelmente nos EUA, a monitorização do clormequato nos alimentos e nas pessoas, em conjunto com estudos epidemiológicos e com animais, é urgentemente necessária para compreender os potenciais danos para a saúde deste produto químico agrícola em níveis de exposição ambientalmente relevantes, particularmente durante a gravidez.”

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