Registadas como lobistas da UE, as duas fundações de Bill Gates e a Gates Venture, uma empresa de investimento do milionário, tiveram 109 reuniões ao mais alto nível com a Comissão Europeia (entre 2019 e 2023). Para além de exercer esse lobby direto, as doações da Fundação Bill & Melinda Gates financiam igualmente uma rede de ONGs lobistas dedicadas a defenderem temas como a Preparação Pandémica ou a descarbonização. Várias questões éticas se colocam, como por exemplo: (1) a relação entre entidades (supostamente) filantrópicas e os investimentos de Bill Gates e (2) o facto de a Comissão Europeia estar a usar o dinheiro dos contribuintes europeus para financiar grande parte desses projetos privados.
Como vimos em artigos anteriores, Bill Gates exerce uma influência global em diversas áreas, sendo que a maioria delas está, direta ou indiretamente, ligada às alterações climáticas, que, segundo ele, deve ser a nossa grande prioridade e, para a qual, enormes recursos e investimentos devem ser mobilizados.
Entre as suas prioridades estão: a “Preparação Pandémica”, a vacinação global, as questões sociais (como a igualdade de género ou o aborto), a agricultura, a captação direita de CO2 da atmosfera ou o passaporte digital global.
Essa influência é feita através da maior fundação de caridade privada do mundo, a Fundação Bill & Melinda Gates, mas também através de outros veículos como veremos à frente.
Através destas entidades, Gates distribui anualmente centenas de milhões de dólares em doações a entidades com enorme impacto global: Média/Associações de jornalistas, Universidades, Empresas privadas, Think Tanks, Agências de Saúde, Reguladores, Plataformas de dados, outras fundações/ Institutos e variados tipos de ONGs.
As doações, ao invés de apoiarem as instituições pelo seu trabalho prévio, moldam a sua atividade já que são atribuídas para fins muito específicos, de acordo com a agenda pessoal de Gates e das suas fundações.
Mas, para além disso tudo, as suas fundações e empresas privadas, exercem lobby diretamente ou através de outras organizações que financiam, por todo o mundo.
Lobby direto na União Europeia
Das mais de 12 mil ONGS e entidades semelhantes, registadas como lobistas da União Europeia, destacam-se duas fundações de Bill Gates. A Fundação Bill & Melinda Gates, que ocupa o 12º lugar em termos de total de reuniões, e a Fundação Breakthrough Energy Catalyst, fundação de uma organização que agrega múltiplos investimentos de risco do milionário, que ocupa o 31º lugar.
Apenas durante o mandato de von der Leyen, estão já registadas igualmente 50 reuniões ao mais alto nível com a própria comissão europeia por parte da Fundação Bill & Melinda Gates, duas com a sua presidente, e 48 com a Breakthrough Energy Catalyst.
Mas a atividade lobista direita inclui também a sua empresa de investimentos pessoal, a Gates Venture, teve 11 reuniões com responsáveis superiores da comissão europeia durante o mandato de von der Leyen.
Já no último mandato de Jean-Claude Juncker, de 2014 a 2019, a Fundação Bill & Melinda Gates teve 52 reuniões com a comissão, uma delas com o próprio presidente Juncker, enquanto a Gates Venture, teve 5 reuniões.
Lobby indireto
A influência de Gates não se fica por aqui. Dos milhares de entidades financiadas por Gates para promoverem as suas agendas, muitas são, elas próprias, lobistas da União Europeia nesses mesmos temas. Entre muitos exemplos, podemos apontar o Global Citizen, que recebeu mais de 11 milhões em doações desde 2020 da Fundação Bill & Melinda Gates.
Desde essa altura, essa ONG teve 37 reuniões ao mais alto nível com a comissão europeia, nove das quais com a própria presidente da comissão. A generalidade dos temas tratados correspondeu às prioridades e investimentos de Bill Gates, como a resposta à covid-19, a vacinação, a Saúde Global e a Agenda Verde.
Outras entidades lobistas da União Europeia foram mesmo fundadas e são largamente financiadas por Gates ou pela sua fundação, como a Cepi a Gavi.
Impacto junto da Comissão Europeia
Todos estes esforços parecem resultar. A Comissão Europeia adotou as prioridades de Bill Gates, quer no discurso político, quer na legislação que tem tentado introduzir. Mas mais importante ainda, o lobby exercido, por ele e por outras entidades, parece estar a impulsionar a transferência de avultadas somas de dinheiro dos contribuintes para as suas “emergências”, especificamente, para os seus projetos pessoais.
O facto de os seus investimentos privados não serem claros e Gates ocultar grande parte da sua atividade financeira privada, coloca sérias questões sobre a justificação das agendas que ele, muitas vezes em parceria com um número restrito de milionários, pretende impor a nível global.
Uma dessas questões é saber se o interesse público está a ser defendido ou se as entidades (supostamente) filantrópicas são usadas apenas como um instrumento perfeito para capturar instituições e cimentar ainda mais a acumulação de poder e riqueza na mão de uma pequena elite.
Nos próximos artigos, veremos mais detalhadamente de que forma Gates, e os seus veículos de lobby, influenciam as políticas europeias nas suas áreas de interesse como as alterações globais e a saúde global.
Fonte:
Home – Transparency International EU
Ver também:
Lobby na UE (1): 35 maiores lobistas têm a Ação Climática como prioridade
Lobby na UE (3): Como atuam as grandes Fundações
Lobby na UE (2): A complexa rede de financiamentos privados das ONGs lobistas
Regulador que omitiu efeitos adversos de vacinas Covid recebeu 4,2 milhões da fundação Gates
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