Uma investigação independente analisou o tratamento padrão de jovens com distúrbios de género no Serviço Nacional de Saúde britânico e concluiu que o uso de terapias hormonais em menores de 18 anos carece de fundamento científico. Em alternativa, a pediatra responsável pelo estudo, Hilary Cass, recomenda a psicoterapia, uma vez que a disforia de género é muitas vezes acompanhada de perturbações mentais como a depressão, a ansiedade e o autismo. Publicado no mês passado, o relatório causou polémica e, após os ataques e ameaças de que foi alvo, Cass assumiu até ter deixado de andar de transportes públicos.
Em vários países europeus, as terapias de conversão hormonal popularizaram-se como um tratamento-padrão para crianças e adolescentes com distúrbios de género, mas um relatório de 388 páginas no Reino Unido publicado no mês passado revela que esta abordagem não é sustentada na evidência científica – para além de negligenciar os eventuais malefícios. Em “The Cass Report“, a reputada pediatra e antiga presidente do Royal College of Paediatrics and Child Health (Colégio Real de Pediatria e Saúde Infantil), Hilary Cass, reviu todos os estudos disponíveis sobre o uso de terapias hormonais em jovens e analisou os tratamentos oferecidos a menores de 18 anos nos hospitais britânicos.
Ao longo de quatro anos, esta investigação independente concluiu que, em grande parte dos casos, a medicalização de jovens e adolescentes com distúrbios de género é desaconselhada e apelou a uma abordagem mais “holística“, que inclua a psicoterapia.
Com efeito, o relatório aponta para uma relação entre as perturbações de género e distúrbios psicológicos como a depressão, a ansiedade, o autismo, para além de uma prevalência de problemas familiares. “O aumento significativo de jovens com disforia de género tem de ser considerado dentro do contexto de uma pobre saúde mental e desequilíbrios emocionais na população adolescente“, lê-se no estudo.
Deste modo, recomenda-se que os jovens sejam submetidos a uma avaliação e acompanhamento psicológicos. Até porque, não raras vezes, as dúvidas acerca da sua identidade de género resolvem-se naturalmente na idade adulta.
Atendendo aos efeitos danosos e até irreversíveis das terapias de conversão – em que se incluem os chamados bloqueadores de puberdade –, o estudo recomenda extrema cautela na prescrição destes tratamentos aos jovens.
Hilary Cass critica também os impactos negativos daquilo que descreve como um discurso “tóxico“ em torno das questões de género – que, segundo a própria, faz com que os médicos encaminhem os jovens para terapias hormonais de conversão com receio de acusações de transfobia.
Em resposta ao relatório, o NHS assegurou que irá “rever a utilização de hormonas de afirmação de género através de um processo de revisão de evidências atualizadas e consulta pública, semelhante ao processo rigoroso que foi seguido para rever a utilização de hormonas supressoras da puberdade“.
Em comunicado, a autoridade de saúde britânica garantiu ainda ter advertido os profissionais de saúde para que sejam “extremamente cautelosos ao considerarem a possibilidade de encaminhar jovens com menos de 18 anos para consideração de intervenção hormonal”.
Será também levada a cabo uma investigação idêntica aplicada à população adulta, mas Hilary Cass já anunciou que ficará de fora do projecto devido às ameaças e insultos de que tem sido alvo – e que levaram mesmo a que deixasse de utilizar transportes públicos por questões de segurança.
Ver também:
Desrespeito pelos pronomes de género autoatribuídos passa a poder constituir crime – The Blind Spot
Editor sénior da NPR: Financiamento externo impulsionou deriva ideológica radical – The Blind Spot