Em janeiro de 2021, poucas horas depois de ter sido divulgada pela imprensa mainstream, uma notícia sobre um suposto “colapso” na rede de oxigénio do Hospital Amadora-Sintra em plena crise da covid-19 foi desmentida num comunicado emitido pelo próprio hospital. E suscitou até um artigo de ‘fact-check’, que confirmou ser falsa essa informação. Apesar do desmentido, estas notícias continuam, até hoje, disponíveis online em vários órgãos de comunicação social – como o Expresso, a CNN (antiga TVI24), a Visão e a Sábado, sem que tenha sido feita qualquer correção. Além disso, ainda se encontram publicadas outras informações falsas sobre o caso, como o “esgotamento do oxigénio” e a transferência de todos os doentes covid daquele hospital. 

Durante aquela foi que uma das fases mais críticas da crise da covid-19, em janeiro de 2021, grande parte da imprensa mainstream noticiou um suposto “colapso” da rede de oxigénio do Hospital Amadora-Sintra, devido ao elevado número de doentes a precisar de oxigenioterapia naquela unidade hospitalar.  

Entre os órgãos de comunicação social que reportaram o “colapso” no dia 26 de janeiro, incluem-se o Expresso, a CNN (antiga TVI24), a Visão, e a Sábado.  

Dizendo tratar-se de informações “oficiais”, a TVI24 fez mesmo uma reportagem in loco onde alegou que os doentes teriam de ser “todos transferidos” para outras unidades com urgência.  

No entanto, apenas algumas horas depois de a notícia ter vindo a público, o próprio hospital emitiu um comunicado em que desmentia as alegações, esclarecendo que nunca tinha estado em causa o colapso da rede, nem sequer a disponibilidade de oxigénio.  

O que sucedeu foi, na realidade, “um conjunto de constrangimentos na rede de fornecimento de oxigénio medicinal que tornou aconselhável a diminuição do número de doentes internados” a quem fosse necessário administrar oxigénio em alto débito. Como, aliás, se pode ler no comunicado, ainda disponível na página oficial do hospital: 

“Não está em causa a disponibilidade de Oxigénio ou o colapso da rede, mas sim a dificuldade da estrutura existente em manter a pressão. Assim é necessário aliviar o consumo de oxigénio para estabilizar a rede e repor a normalidade. 

Em momento algum os doentes internados estiveram em perigo devido a esta ocorrência. Os constrangimentos referidos foram colmatados com recurso a garrafas de oxigénio, envolvendo a mobilização de vários profissionais cujo esforço se agradece publicamente.” 

No dia seguinte, esta ‘confusão’ originou até um artigo do Observador, que fez um fact-check que determinava ser falso um suposto “colapso” do sistema de oxigenioterapia e um “esgotamento” do oxigénio disponível: 

“Vamos a factos. O sistema de oxigénio do Hospital Fernando Fonseca não colapsou, no sentido em que não deixou de funcionar. Também não se “esgotou” a capacidade de oxigénio disponível. Como o Observador explicou já na madrugada desta quarta-feira, o elevado número de doentes na enfermaria e nas urgências destinadas a doentes Covid-19 que precisavam de oxigenioterapia provocou flutuações na distribuição interna. (…) “Não está em causa a disponibilidade de oxigénio ou o colapso da rede, mas sim a dificuldade da estrutura existente em manter a pressão”, referiu o hospital, por volta das 22h30 — cerca de uma hora e meia depois de serem divulgadas as primeiras notícias que apontavam para um cenário mais grave.” 

Porém, não obstante o desmentido oficial por parte do Hospital Amadora-Sintra e a verificação de factos do Observador, até hoje muitos dos jornais que veicularam a notícia não fizeram qualquer correção na sua edição online. Também o vídeo da reportagem feita pela TVI24 contendo pelo menos duas alegações falsas – do colapso da rede de oxigénio e da transferência de todos os doentes covid-19 – se mantém visível. 

Fontes:  

Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE | Ponto de situação sobre o fornecimento de oxigénio medicinal no HFF – Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE (min-saude.pt)  

Ver também: 

Apenas 4 crianças dos 5 aos 11 anos internadas em UCI desde o início da pandemia devido à Covid-19 – The Blind Spot 

350 mil casos devido aos Santos Populares: a previsão foi divulgada por 50 órgãos de comunicação, o seu total falhanço por nenhum 

Imprensa inventa poupança de 245 milhões com mais vacinas citando estudo inexistente – The Blind Spot 

Meios de comunicação social portugueses difundem notícia falsa – The Blind Spot 

Jornal Expresso divulga informação falsa sobre máscaras – The Blind Spot 

CNN Portugal oculta utilização de imagens falsas sobre a guerra na Ucrânia  – The Blind Spot 

RTP passa imagens antigas da Croácia como sendo direto de comemorações das presidenciais brasileiras – The Blind Spot 

SIC repete fórmula de fake news – The Blind Spot 

RTP exibiu imagens falsas sobre a Ucrânia – The Blind Spot