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O viés da confirmação

O viés de confirmação é a tendência para valorizar, lembrar, interpretar ou até pesquisar informações que confirmem crenças pré-existentes.

Muitas vezes desenvolvemos convicções com facilidade. Mesmo sobre assuntos complexos, a generalidade das pessoas tem uma opinião formada mesmo quando dispõe de muito pouca informação sobre o tema. Vários vieses como o da disponibilidade ou da autoridade contribuem para isso.

Formada uma ideia sobre um assunto, temos a tendência para a considerar certa e muita resistência em aceitar informações que contrariem essa perceção inicial.

Deixamos de percecionar a realidade de forma objetiva e procuramos ativamente a confirmação dessa crença. Ao mesmo tempo ignoramos ou rejeitamos toda a informação que a contradiga.

Como se manifesta:

  • Atribuirmos mais valor às evidências que apoiam as nossas crenças e desvalorizamos as que não o fazem;
  • Procuramos fontes que tendem a reforçar as nossas ideias e evitamos as que as desmemtem;
  • Interpretamos os dados de modo a confirmar a nossa tese, mesmo que eles sejam ambíguos ou contraditórios;
  • Recordamos eventos ou informações que validam a nossa perspetiva e esquecemos os que a contradizem (“cherry-picking”).

Porque é importante

O viés da confirmação é um dos mais impactantes na nossa vida individual e social.

A nível individual, pode provocar uma grande distorção da perceção sobre várias realidades e ajudar a criar “certezas” baseadas em informação escassa ou pouco fidedigna. Leva à incompreensão de outras perspetivas e a tomadas de decisão desajustadas.

Nos grupos, o viés da confirmação ajuda a reforçar o “pensamento de grupo”, contribuindo assim para a formação de crenças coletivas e perceções muito enviesadas da realidade. A limitação de informação, que acontece nestas situações, conduz por vezes a uma radicalização do grupo.

Exemplos

  • Muitas pessoas, pelo facto de gostarem muito de uma figura pública, desconsideram informações negativas sobre a mesma.
  • Quando fazemos uma pesquisa, tendemos a procurar informação que vá ao encontro das nossas ideias e a desprezar a que as contrarie.
  • Quando (alguns) políticos tomam uma decisão, têm a tendência para a justificar posteriormente, por vezes mesmo contra os seus próprios interesses.
  • Mesmo os cientistas tendem a privilegiar as evidências que confirmam as suas teorias do que as que as contraiam, o que leva a outros vieses importantes como o viés da publicação.   
  • As afiliações (clubística, ideológica, partidária) estão largamente expostas a este viés. Podem ser igualmente reforçadas ou, até mesmo suportadas, por ele.

Como evitar

Não é possível eliminar totalmente os vieses cognitivos e este é dos mais difíceis de contrariar. No entanto, há algumas formas de o tentar fazer.

  • Antes de nos precipitarmos a assumir uma posição sobre um tema devemos procurar informação de fontes credíveis e diversificadas. Muitas podem parecer fidedignas, mas nem sempre são.
  • Privilegiar a evidência científica. Nas redes sociais e na internet nem sempre é fácil encontrarmos fontes credíveis e isso exige uma busca cuidada.
  • Mesmo dentro da ciência temos de ter cautela. Alguns estudos muito populares, por serem atrativos, são de fraca qualidade. Mesmo as opiniões de “especialistas” (muitas vezes extravasando a sua área de competência) não devem ser encaradas como “a verdade”.

Sobre temas complexos há visões diferentes dentro da comunidade científica, sendo frequente a evidência ser contraditória, o que aconselha alguma prudência.

  • Não “investir” muito numa perspetiva baseada numa primeira impressão ou na nossa intuição. Quando há diferentes teorias sobre um tema é importante não ter uma posição fechada. Mesmo que tenhamos uma dada visão, devemos justificá-la com dados concretos, identificar hipóteses alternativas e estarmos recetivos a mudar mediante novas evidências.
  • Procurar discutir com quem tem perspectivas diferentes. Isso pode promover uma visão mais abrangente e impedir que os vieses iniciais se agravem.
  • Evitar formar opiniões baseadas em “pensamento de grupo”, nomeadamente em grupos com inclinações ideológicas acentuadas, já que isso pode minar a isenção na avaliação de informação e a criação de dogmas.
  • Tentar perceber de que forma podemos ser afetados por este viés. Por exemplo, por termos tomado uma posição inicial precipitada, por termos muita exposição a uma das perspetivas ou por sermos parte interessada.
  • Praticar a difícil tarefa de reconhecer erros de avaliação e conseguir redefinir posições perante novas evidências. Incentivar os outros a fazê-lo , nomeadamente elogiando essa atitude.

Conclusão

Todos somos fortemente influenciados pelo viés da confirmação. Quando nos vinculamos a uma dada perspetiva, sentimos a nossa auto-estima em jogo e a forma de a salvaguardar é confirmar tendenciosamente as nossas posições. Muitas vezes, de modo inconsciente.

Existem fatores da vida moderna que acentuam ainda mais o problema. Por exemplo, algumas tecnologias usam filtros que, através de algoritmos, nos conduzem para conteúdos que nos são mais agradáveis. Tendem, deste modo, a reforçar as nossas crenças, a radicalizar posições e a minar o nosso sentido crítico.

Ficamos ainda mais expostos às nossas limitações, e vulneráveis a manipulações comerciais, políticas ou ideológicas.

Felizmente, existem outros fatores que podem contrariar esta tendência. Cabendo a cada um de nós manter uma mente curiosa, aberta a novas informações e com sentido crítico.

Apesar de difícil, é necessário focarmo-nos mais em descobrir a verdade do que em provar que estávamos certos desde o início.

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