Skip to content

O aumento do preço dos combustíveis justifica-se com a pressão da guerra na Ucrânia?

O aumento do preço dos combustíveis é um assunto que tem levantado algumas dúvidas, na opinião pública. A guerra que decorre na Ucrânia e as sanções aplicadas à Rússia têm sido as principais justificações apresentadas pelo Governo para estes aumentos. Mas tendo em conta que não houve um corte por parte da Rússia, será que existem outras motivações?

A partir de segunda-feira, abastecer gasolina e gasóleo vai ficar de novo mais caro e por isso é importante entender o que, realmente, poderá estar a motivar um dos maiores aumentos de sempre nos preços dos combustíveis.

Na próxima semana, vai haver uma subida histórica, que pode ultrapassar os 20 cêntimos por litro. Em menos de três meses, o preço da gasolina subiu 25 cêntimos e o do gasóleo 32 cêntimos por litro, em Portugal.

O economista de uma sociedade gestora de fundos, Pedro Sousa, falou-nos sobre os principais motivos para estes aumentos causados pela pressão da guerra na Ucrânia:

“Mesmo que as sanções atuais não contemplem para já a proibição global na compra de petróleo da Rússia, ao longo das últimas semanas tem se visto uma relutância por parte de empresas ocidentais em comprar estes produtos, com vista a distanciarem-se do regime e devido às sanções no sistema bancário, que indiretamente poderão dificultar transações com fornecedores russos. Por exemplo, a Galp anunciou que não iria comprar petróleo russo. A Shell comprou na semana passada, mas sofreu por isso muita publicidade negativa e já veio pedir ‘desculpa’ publicamente por isto. A Rússia representa 10% da produção global de petróleo; como no curto prazo a oferta e procura de petróleo são relativamente inelásticas, uma disrupção destas reflete-se numa subida significativa do preço”.

Apesar da Rússia representar 10% da produção global de petróleo, existem outros produtores como por exemplo, a Nigéria, o Brasil ou Angola, entre outros. Assim sendo, questionamos ao economista Pedro Sousa se estes aumentos poderiam ser travados considerando outros fornecedores. 

“Penso que no curto prazo (meses / ano) poderá ser difícil. Fala-se de aumentos na produção da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo); no entanto, a OPEP tem falhado targets de produção nos últimos meses e não é claro quão rapidamente se consegue aumentar a produção. No médio/longo prazo, penso que um aumento da produção dos Estados Unidos, bem como potencial acesso às reservas da Venezuela ou Irão, poderá colmatar disrupções da oferta russa”, esclareceu.

A intervenção do Governo e a vontade política para travar estes aumentos também foi um dos assuntos abordados. Pedro Sousa diz que “o que o governo pode fazer é decidir subsidiar os aumentos de custos. No entanto, isto refletir-se-ia num aumento da dívida pública e será pago pelos contribuintes através de maiores impostos no futuro, como qualquer outro gasto do estado.”

Pedro Sousa terminou a conversa destacando o seguinte: “penso que mais relevante que o aumento do combustível isolado, é o potencial aumento generalizado dos preços devido à pressão inflacionária dos custos energéticos, e as consequências disto para a sustentabilidade da dívida pública.”

Qual é o peso dos impostos no preço dos combustíveis, em Portugal?

No site da Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), as contas são feitas com base nos efeitos de cada uma das componentes no preço dos combustíveis.

Na data em que consultamos a informação, o intervalo considerado é de 25 de fevereiro a 11 de março de 2022.

O peso dos impostos no caso da gasolina é de 54,69% (35,98% de ISP* e 18,71% de IVA). O preço do produto à saída da refinaria e a logística representam (cotação e frete) cerca de 41,53% e a incorporação de biocombustíveis quase 3,44%. Preço de referência: 1,801€

No caso do gasóleo, o peso dos impostos é ligeiramente menor. À data da consulta representa 47,04% (28,34% de ISP e 18,70% de IVA). A cotação e frete corresponde a 48,62% e a introdução de biocombustíveis a 4%. Preço de referência: 1,775€

Ou seja, num euro de gasolina, 54,69 cêntimos correspondem a impostos; no caso do gasóleo, estará a pagar ao Estado 47,04 cêntimos por cada euro que gastar a abastecer.

*ISP – Imposto sobre todos os produtos petrolíferos e energéticos, se forem consumidos ou vendidos para uso carburante ou combustível. No site do ENSE, o ISP incorpora igualmente o valor da Taxa de Contribuição Rodoviária e da Taxa de Carbono.

Compre o e-book "Covid-19: A Grande Distorção"

Ao comprar e ao divulgar o e-book escrito por Nuno Machado, está a ajudar o The Blind Spot e o jornalismo independente. Apenas 4,99€.